Por Ricardo Guerra
No regime dito democrático todo governo é legitimado pelas instituições burguesas e a democracia representa – apenas – uma engenhosidade criada para consolidar e perpetuar a burguesia como classe dominante.
Dessa forma, continuamente legitimando a configuração de um governo burguês, o Estado burguês sempre é usado como garantidor dos interesses de uma minoritária casta que, em países periféricos do sistema capitalista como o Brasil, é representada por vassalos entreguistas que compreendem o país (no máximo) como uma grande fazenda de extrativismo a serviço do império.
No Brasil, mesmo dispondo de um cenário claramente favorável no ambiente de um governo burguês, a denominada elite nacional:
- Sempre deixou claro o total desprezo que tem pela democracia;
- E não demonstra qualquer pudor em transparecer que nunca perdeu sua vinculação com a cultura colonizada.
Para essa gente, o Estado nem de longe representa ser a mais importante e necessária estrutura reguladora dos direitos coletivos da sociedade e, de forma alguma, deve desempenhar o essencial papel que precisa exercer para a promoção do desenvolvimento humano e social do povo.
Com Bolsonaro como fantoche, o consórcio em sinergia estabelecido entre a alta casta de militares e da juristocracia com a denominada elite financeira do país, culturalmente cooptados e submetidos aos interesses estadunidenses e financeiros transnacionais:
- A mentalidade colonialista assumiu sua máxima condição entreguista;
- A estupidez e o comportamento violento foram usados como pano de fundo e estratégia de distração para implementação da agenda ultraliberal determinada pelo império;
- E a Mídia, enquanto pilar de sustentação de todo esse processo, usou e abusou de estratégias para “hackear a mente” das pessoas visando legitimar a imposição do individualismo como política de governo contra qualquer sentido de comunidade e de reconhecimento do papel do Estado como provedor do bem-estar social.
Dessa forma, o imperialismo, em sua insaciável busca por expansão e avidez pela manutenção de irreais e inalcançáveis taxas de lucros, segue impondo sua agenda neoliberal aos governos que constituem a periferia do sistema capitalista:
- Violando a soberania desses países;
- Sufocando suas economias, eliminando direitos e destruindo todas as formas de ação orientadas para o bem-estar social das populações locais;
- Pressionando, entre outras coisas, a privatização das empresas estatais e obrigando a redução dos gastos do Estado em serviços essenciais como saúde, educação e infraestrutura.
Mas, além de continuar avançando sobre os recursos estatais, financeiros e naturais e impulsionar a eliminação de leis trabalhistas e previdenciárias, os agentes do imperialismo também vão investindo assustadoramente sobre as terras e até sobre os mananciais e aquíferos dos países da periferia do sistema.
Nesse contexto, as eleições de 2022, num país desprovido até mesmo de uma mínima base de nacionalismo burguês e menos ainda estruturado de uma base popular revolucionária:
- Onde sequer se propõe a organização de uma burguesia nacional com capacidade de reinvestimento interno de capital privado e a formação de uma indústria nacional pujante, nem se tem a garantia de manutenção de empresas estatais em setores estratégicos para o país (como a Petrobrás, a Vale, os Correios, a Ceitec, etc);
- E tampouco se dispõe da mínima capacidade de organização revolucionária para que se possa vislumbrar a proposição da socialização dos meios de produção;
- Quais perspectivas de enfrentamento aos ataques do imperialismo se apresentam para nós?
Será que as próximas eleições sugerem alguma possibilidade de alento para a maioria do povo no sentido de alinhamento aos interesses e as reais necessidades da população brasileiro e do Brasil enquanto um Estado Soberano?
Levando em consideração o imenso abismo causado pela desproporcionalidade de forças entre os atores desse processo eleitoral (representação popular x burguesia entreguista), dificilmente será possível conseguir mudar muita coisa:
- O sistema está sendo todo tomado e aparelhado pelos militares (defensores de um modelo de desenvolvimento dependente) para funcionar automaticamente como o império quer, a despeito da orientação ideológica do governo que estiver à frente do poder – em nível local, regional e central;
- Incluindo-se aí, a vulnerabilidade do sistema de apuração, no qual a urna eletrônica não apresenta a possibilidade de controle auditável popular e independente e está colocada sob a tutela do consórcio que administra o Brasil de acordo com os interesses do imperialismo.
Não podemos ser ingênuos quanto a essa realidade. Mas isso não significa dizer que não temos a obrigação de ao menos tentar!
Temos que implementar esforços para forçar a virada do leme e ao menos ter perspectivas de mudar a rota, pensando em alguma possibilidade de soberania nacional e de investimentos em políticas estratégicas que possam ser conduzidas no sentido de garantir dignidade e melhora na qualidade de vida do povo brasileiro, sob a pena de num futuro não tão distante nem ao menos isso sejamos capazes de conseguir fazer.
A burguesia brasileira, com Bolsonaro, conseguiu criar a figura de um populista para chamar de seu e o está usando, assim como faz com a denominada terceira via, para demonizar as forças de esquerda (ao menos outrora vinculadas ao trabalhismo e a luta anti-imperialista) e assim gerar um contexto de polarização entre o que eles fazem parecer ser “extrema direita” e “direita moderada”, visando obter mais opções e abrir um leque de possibilidades para continuar no poder servindo aos interesses do império, aprofundando a agenda neoliberal e o desmonte do Brasil enquanto um Estado Nação soberano.
Os candidatos que atualmente são denominados como “terceira via” expressivamente votaram em Bolsonaro ou se omitiram durante o processo eleitoral que o elevou ao poder em 2018:
- É necessário ter claro que Bolsonaro e a terceira via fazem parte de um mesmo contexto;
- Não se diferenciam enquanto ideologia;
- E (todos) são fiéis seguidores dos preceitos estabelecidos pelo Consenso de Washington e a aplicação da política econômica e social do ultraliberalismo.
Todos aqueles que desejam evitar a continuidade dessa tragédia que estamos vendo avançar a passos largos – da agenda ultraliberal no Brasil – precisam implementar esforços para criar bases mínimas para a recuperação e reconstrução do país e impedir a continuação deste nefasto projeto de poder que destrói completamente a dignidade do nosso povo e elimina toda e qualquer perspectiva de soberania nacional.
A atual conjuntura nos colocou numa sinuca que nos conduz inevitavelmente ao enfrentamento e desconstrução da barreira do antipetismo, criada e sustentada pela burguesia tanto na sua primeira via (com Bolsonaro) como na denominada terceira via (por todos seus interlocutores), sem arrogância e preconceitos, mas também sem ilusões.
Criar condições para gerar possibilidades de mobilidade social e humanizar as formas de convivência e relações políticas e sociais, não significa (logicamente) contrariar a concentração da riqueza no país e muito menos determinará o processo de nossa libertação das garras do imperialismo – ainda mais se pensarmos numa perspectiva de viabilizar a organização popular para a conscientização da necessidade de socialização dos meios de produção.
Não é suficiente, mas é algo que o mais rápido possível precisamos voltar a fazer!
A nossa luta (nesse momento) deve priorizar sim, a ascensão de um Governo que ao menos seja sensível às necessidades dos mais pobres e que faça uma administração empenhada em transformar o Estado burguês num provedor de direitos sociais.
Mas, acima de tudo, não podemos esquecer de cobrar desse governo a elaboração de um um esforço para a realização (quando no poder) de um trabalho de formação política e conscientização de classe na base – nos locais de convívio, moradia e de trabalho.
Para os verdadeiros anti-imperialistas e militantes políticos preocupados com a perspectiva de um destino com soberania para priorizar a justa distribuição da riqueza produzida aqui no Brasil, essa é a possibilidade que (me parece) se apresenta no momento como factível e com capacidade de gerar um necessário ponto de inflexão.
Sem alimentar qualquer ilusão de que “apenas isso” é suficiente para o enfrentamento ao ataque do imperialismo contra o nosso patrimônio público, estatal e financeiro – sob a total conivência da burguesia local:
- Não podemos deixar de perceber o quão delicado é o atual momento político do país;
- No qual, até mesmo a tarefa de reorientar o Estado brasileiro para que seja submetido a uma administração empenhada em transformar o Estado burguês num provedor de direitos sociais, ainda é algo muito difícil e distante de acontecer.
Do jeito que as coisas estão caminhando, com toda a opressão imperialista nos impondo essa vergonhosa dívida pública e a entrega das empresas estatais por menos de 5% do valor real de revenda (verdadeiros crimes de lesa-pátria), a nossa capacidade de investimentos e de geração de uma cadeia produtiva de desenvolvimento nacional fica praticamente nula.
O corte de investimentos em saúde e educação, a precarização do trabalho e desregulamentação das leis trabalhistas, a opção pelo agronegócio, orientado para a exportação e não para garantir a segurança alimentar da população, frente a agricultura familiar, além da escalada permissividade ao livre uso de agrotóxicos, são alguns exemplos de como a burguesia nacional, subserviente aos interesses imperialistas, está inviabilizando qualquer perspectiva de futuro para as nossas próximas gerações.
Portanto, sobre as perspectivas que se apresentam para as eleições em 2022, objetivamente nos resta saber se – no âmbito institucional:
- Algum candidato, partido, força partidária ou suprapartidária realmente terá interesse, forças ou cacife para enfrentar de forma contundente o imperialismo e seus asseclas na burguesia nacional?
- Ou quem sabe, ao menos conseguir impulsionar a ascensão ao poder de um Governo sensível às necessidades dos mais pobres, e assim gerar um possível ponto de inflexão na aparentemente irreversível condição de terra arrasada na qual o Brasil se encontra?
Na engrenagem em que se estrutura política e economicamente o Brasil, um Estado Nacional submetido a um agressivo ataque do imperialismo (como jamais se viu na história do país), de forma alguma podemos nos abster de tomar parte nos debates relacionados aos processos de disputa de poder legitimados pelo Estado burguês, como as eleições.
Mas é a luta diária e concreta da vida das pessoas o ambiente onde a configuração de uma aliança solidária para a construção de uma nova sociedade, pautada pela justa redistribuição da riqueza material produzida, pode e deve avançar.
Levante ! Organize-se! Lute! A hora de Lutar é Agora!
BRASIL| No que o direitista e membro do Opus Dei Alckmin pode ajudar o povo brasileiro? Nos quatro mandatos como governador de SP o que fez a favor? Ou somente devemos nos lembrar dos ataques contra os professores, o funcionalismo, as privatizações e até dos ataques contra o PT? pic.twitter.com/yjArTE2EsF
— PLR América Latina (@PlrLatina) April 5, 2022
RECUPERAÇÃO: "Trabalhador leva carne de caminhão frigorífico que tombou na Bahia." 🤫😉
— PLR América Latina (@PlrLatina) April 4, 2022
Quando a tirania é lei a revolução é ordem. Aumento do fechamento do regimen, aumento do desconforto e da rebeldía.
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"A pedido da bancada evangélica na Câmara, Bolsonaro aprova a Lei do Jejum Obrigatório. Até o momento são mais de 120 milhões de pessoas alcançadas pela nova lei."
— PLR América Latina (@PlrLatina) April 4, 2022
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6 comentarios en «Democracia burguesa e a sinuca do processo eleitoral de 2022»