Por Ricardo Guerra
Desde 2008 mais e mais contradições acumulam-se no sistema do capitalismo mundial e o nível de parasitismo especulativo na economia imperialista chegou a um ponto insuportável e sem retorno:
- A maior crise enfrentada pelo capitalismo – em todos os tempos – segue firme o seu fluxo de agravamento, sendo inevitável (e mais que previsível) o estouro de uma nova bolha especulativa – muito maior do que aconteceu em 2008;
- Apenas em 2019 o FED imprimiu 10 trilhões de dólares para comprar títulos podres e em 2020 (durante a pandemia) foi aumentada – de forma descontrolada – a impressão de dinheiro sem lastro (ver também aqui);
- Além disso, conforme matéria recente publicada no Primera Línea Revolucionária América Latina, as taxas de juros da especulação financeira foram novamente manipuladas e os títulos especulativos com menos de 1 ano estão sendo remunerados com taxas equivalentes aos títulos com maturidades de 20 e até 30 anos.
Diante desse cenário, no qual o modelo econômico de expansão “infinita” faliu, o império necessita/deseja (desesperadamente) suscitar uma situação que forneça uma nova “perspectiva de crescimento”:
- Como o que realmente importa para os imperialistas é o controle do mundo, inclusive contra qualquer ameaça que leve a paz;
- As guerras – sempre as guerras – representam a opção histórica usada para a perpetuação do poder que, sob imposição, eles detêm.
A paz não dá aos capitalistas o insaciável lucro que sempre desejam:
- E uma guerra pode gerar as perspectivas para que o imenso aporte de capital fictício – sem bases em lastro produtivo (hoje existente) – seja resolvido;
- Criando a “oportunidade” para que o processo de acumulação de capital possa ser, dessa forma, reiniciado “do nada”.
Assim, a inevitável escalada de aumento da agressividade imperialista – para tentar salvar seu moribundo sistema – levou os EUA (através do anteparo da OTAN) a impor a guerra entre Ucrânia e Rússia:
- Pressionando, cada vez mais, para que se torne um conflito de grandes proporções;
- Inclusive sob a ameaça do uso de armas nucleares.
Isso nos leva a compreender que a luta da Rússia não se restringe ao seu espectro territorial, econômico e político e faz parte de um grande jogo e rearranjo geopolítico arquitetado pelo império estadunidense acuado:
- A guerra em curso significa, antes de tudo, uma guerra entre EUA e Rússia – imperialismo ocidental x Oriente e demais regiões com nações não subservientes a vigente ordenação política e econômica do planeta;
- Uma guerra que não finaliza com a derrota da Ucrânia;
- E que precisa ser travada pelo fim da dominação dos EUA no cenário geopolítico mundial e em prol da destruição do mundo unipolar que sucedeu ao colapso da antiga URSS.
Nesse contexto, o conflito militar com a Ucrânia pode ser considerado um evento de imenso significado histórico, posto que pode marcar uma ruptura com o passado e representar o início de uma nova realidade geopolítica – para a qual a Rússia precisa vencer os EUA.
Sendo assim, podemos dizer que nesse momento, a Rússia representa todos os demais países que sofrem com as vorazes investidas imperialistas praticadas pelos EUA:
- Portanto, os objetivos estratégicos da Rússia não se circunscrevem apenas à derrota da Ucrânia;
- E a Rússia precisa conseguir fazer com que todos compreendam isso, apesar de todo o jogo de manipulação de informação praticado pela mídia ocidental – a serviço do imperialismo.
Um Império em vertiginosa situação de derrocada, mas ainda com um enorme poder econômico e militar, não iria se “deixar cair”:
- Sem tentar alguma alternativa de manter o seu poder e a sua hegemonia;
- Mesmo que fosse de forma tão desesperada e sem garantias de sucesso, como numa guerra nas condições vigentes – com o histórico, a tradição e o poderio bélico da Rússia.
Dessa forma, canalizando armas para um regime repressivo e corrupto, cujo sistema militar está nitidamente sedimentado por uma matriz ideológica nazista, como a Ucrânia:
- Os EUA e seus aliados (OTAN) forçaram a criação do conflito com a Ucrânia como uma oportunidade para tentar aniquilar – econômica e politicamente – a Rússia;
- E, ainda, como forma de afirmar seu poder frente a qualquer desafio à ordem ocidental, numa evidente tentativa de se impor (também) frente à China e aos demais países que ousaram desafiar o Consenso de Washington e a política de aplicação do ultraliberalismo (ver também aqui, aqui e aqui);
- Destruindo a soberania dos países da periferia do capitalismo, para saquear o seu patrimônio público, financeiro e estatal e aniquilar os direitos sociais duramente conquistados pelos trabalhadores – em busca da manutenção dos exorbitantes e não mais alcançáveis lucros no centro do sistema.
Com o objetivo de criar um clima de desestabilização e isolamento nas economias que afrontam os seus interesses, o sistema econômico mundial (dominado pelo ocidente):
- Não deixou à Rússia outra escolha senão agir no sentido de impedir a contínua e ilimitada expansão do imperialismo ocidental (ver aqui e aqui);
- E confrontar o (até então) amplo e irrestrito curso de dominação dos EUA sobre os destinos políticos e econômicos globais.
Não restam dúvidas que a presente ordem unipolar já não é mais viável para o resto da humanidade:
- O modo de produção capitalista não é capaz de viabilizar a paz;
- Muito pelo contrário, sempre recorre e depende de guerras em busca de mais recursos, mercados e subjugação de pessoas e povos.
Apenas sob a bandeira da paz a humanidade conseguirá alcançar a plena emancipação do processo de exploração – que ocorre tanto entre indivíduos, como entre sociedades:
- Portanto, a luta anti-imperialista necessariamente precisa acontecer atrelada ao processo de superação do modo de produção capitalista e da configuração econômica baseada na ideologia liberal;
- Configuração na qual, nações como Rússia, China e outras – que se recusam aceitar exercer um papel subordinado no cenário geopolítico – podem contribuir para acelerar o movimento de mudança em busca de uma alternativa (multipolar) mais equilibrada para o mundo.
Resta saber se essa nova realidade (a ser confirmada) será capaz de emergir acompanhada de uma perspectiva de desenvolvimento (econômico, humano e social) modulado num ambiente de relações amistosas e orientadas para a colaboração mútua entre as nações e segurança e paz para os indivíduos e os povos.
6 comentarios en «Conflito Rússia x Ucrânia: uma janela de oportunidade para a criação de um mundo multipolar?»
Excelente texto.
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