Parece mentira, mas não é

Parece mentira, mas não é

Material recopilado por Maurício Angelo (@distopi)

O Prefeito Darci Lermen (MDB) de Parauapebas no Pará está fazendo hoje o “maior churrasco do mundo”, no aniversário da cidade, 20 mil quilos de carne. 

Parauapebas é o centro da mina de Carajás, da Vale. Em 2021, o município recebeu R$ 1,4 BILHÃO em CFEM

Em Carajás fica a maior mina de minério de ferro a céu aberto do mundo. É responsável por mais de 50% da produção da Vale, que garantiu o lucro assombroso de R$ 121 BILHÕES em 2021. A CFEM é o “royalty” da mineração. Uma taxa paga pelas mineradoras para compensar o dano causado.

Os municípios mineradores ficam com o grosso da CFEM [Agência Nacional de Mineração], mais de 60%. O resto vai para os estados e a União. Mas esse dinheiro forte não pode ser usado de qualquer maneira. Há regras. Em tese, a CFEM deve colaborar para o desenvolvimento humano das cidades exploradas…

Não é bem o caso de Parauapebas. A cidade que vive em função da Vale tem uma taxa de Mortalidade Infantil de 11,78 óbitos/1.000. É o 2.371º no Brasil e o 96º no Pará. 

No IDEB-final em 2019, ficou em 2.963. Em 2016, era o 3.330º lugar no Brasil em internações por diarreia.

Mais da metade da cidade não tem  esgotamento sanitário e 80% das vias públicas não são urbanizadas. Apesar disso … Darci Lermen, reeleito em 2020 e que já foi prefeito em outros mandatos, considerou uma boa ideia fazer um churrasco para entrar no Guinness Book (é sério).

Ah, sim, em março agora Lermen e o vice prefeito de Parauapebas foram cassados e se tornaram inelegíveis. Em decisão, a Justiça Eleitoral entendeu que mais de R$ 1,6 milhão usados na campanha foram arrecadados de forma indevida, por meio de “laranjas”. 

“Na sentença, o juiz Celso Quim Filho, aponta que a decisão não tem caráter imediato, uma vez que eventuais recursos da chapa devem levar o caso à análise em instâncias superiores. Caso a decisão seja mantida, uma nova eleição precisará ser realizada no município”.

O projeto De Olho na CFEM, do @Comitemineracao @InescOficial @JusticaTrilhos e outros, analisa justamente para onde vai a dinheirama da CFEM e se os recursos estão sendo aplicados como deveriam, caso a caso, incluindo Parauapebas. Spoiler: não estão.


Se você desconfiou que o combo pandemia + mineração + gestão municipal, hmmm, “peculiar”, não deu em boa coisa, você acertou. Ainda em maio de 2020 mostrei que a infecção por Covid-19 explodiu entre trabalhadores da Vale e Parauapebas entrou em colapso. 

Vídeos, relatos e fontes diversas acusavam a Vale de omitir resultados de exames para que não constassem no sistema municipal de saúde. A mineradora e a prefeitura negaram. A OAB e o Ministério Público entraram com ações para averiguar a situação da cidade frente a pandemia.

Centenas de funcionários da Vale pegaram Covid. Alguns morreram. A mineradora é dona da cidade, com bairros inteiros de funcionários e um hospital construído por ela e sob a sua gestão. Tudo passava por lá. A transparência, digamos, não era – e não é – exatamente de excelência.

A situação de Parauapebas ficou tão grave, assim como a de outras cidades mineradoras, que uma denúncia de violações de direitos humanos por mineradoras na pandemia foi aceita pela @CIDH. Várias matérias que eu fiz no @obsmineracao embasaram a denúncia. 


Não dá para dizer que as coisas melhoraram muito. Mas isto é mero detalhe para Darci Lermen e cia. A prefeitura segue celebrando empolgadona o aniversário de 34 anos da cidade com o “maior churrasco do mundo”. Alegria pura

Assim como outras cidades do Pará, Parauapebas tem forte presença sulista. Darci Lermen é gaúcho. São os tais “pioneiros”, migrantes que foram atrás de terra barata – quando não grilada – com métodos *muitas vezes* pouco republicanos. Daí a opção pelo costelão de chão.

Lermen está no QUARTO MANDATO como prefeito. A farra boa do churrasco que quer entrar para o Guinness foi organizado pela prefeitura com o apoio do Sindicato dos Produtores Rurais (Siproduz). A gauchada veio em caravana de vários lugares do Brasil. 


O sudeste do Pará, além de fortíssimo na mineração, também conta com a grana do agronegócio e os conflitos socioambientais que vem junto. O Pará tem 22 milhões de cabeças de gado, 3º no ranking BR. Parauapebas tem 134 MIL bovinos, 4º lugar no estado.

Esse breve fio mostra o que acontece quando se junta muito, MUITO dinheiro de mineração com agronegócio, oligarquias, crimes socioambientais, corrupção, descaso, pandemia, impunidade, deboche e falta de controle social. Tudo ao som de “Vanerão Sem “Agrotóchico” de Gaúcho Pachola.

Em tempo, uma ERRATA importante: Parauapebas não arrecadou R$ 1,4 BILHÃO EM CFEM em 2021 não, falha minha. Na verdade foram R$ 2,4 BILHÕES EM CFEM, campeã nacional. E 2022 não deve ser muito diferente disso. Haja vanerão.

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