Por Ricardo Guerra
Os países centrais do capitalismo no ocidente sempre puderam explorar seus recursos e fontes de energia sem ter que se deparar com tenebrosas previsões sobre mudanças climáticas. No entanto, numa clara tentativa de impedir o desenvolvimento e perpetuar os países que não orbitam o centro do capitalismo mundial como suas colônias, adotam um falacioso discurso ambientalista:
- Relacionando questões de ordem local com o clima global;
- Interferindo na autodeterminação e afrontando a soberania alheia;
- Impondo a urgente redução das emissões de CO2, forçando o impulsionamento do uso de fontes de energia mais caras e menos produtivas para os países periféricos em desenvolvimento.
Dessa forma, negando a Estados-Nação soberanos os mesmos privilégios que sempre tiveram (e ainda continuam a ter), inclusive quando exaustivamente exploraram (e exploram) os recursos desses países:
- Vão lhes cerceando o livre poder de decisão para gerir seus recursos e economias, comprometendo as suas perspectivas de desenvolvimento;
- Criando uma nova forma de narrativa para promover a subjugação – o imperialismo ecológico ou eco imperialismo.
O eco imperialismo forja seus argumentos sobre bases “emocionais”, que “estimulam” nas lideranças locais (cooptadas, chantageadas ou simplesmente vendidas) – o “desejo” de se apresentarem como (falsos) “progressistas”:
- Para, assim, sabotarem as possibilidades de prosperidade dos países aos quais deveriam representar os interesses;
- Inviabilizando a capacidade de desenvolvimento autônomo e limitando as expectativas de pujança econômica desses países – “em nome da causa ambiental”.
Assim, com base em dados no mínimo inconclusivos, contrariando o fato de que a mudança climática não é um problema recente e que a humanidade detém uma enorme capacidade de se adaptar a mudanças:
- O imperialismo, contando com o apoio dos denominados “progressistas do ocidente”, se arroga (em nome do ambientalismo) no direito de se intrometer nos assuntos internos das nações em desenvolvimento – também por este motivo;
- Instrumentalizando o discurso ambiental para, mais uma vez, sufocar o desenvolvimento na periferia do sistema capitalista;
- E, também, para tirar o foco da responsabilidade pela degradação ambiental, que é do próprio sistema capitalista e sua lógica insustentável.
São os países capitalistas centrais que mais poluem, mas, como cavaleiros do apocalipse, seguem de forma alarmística apavorando e induzindo as pessoas para a aceitação de qualquer solução que ajude a “evitar a catástrofe” que prenuciam:
- Abrindo possibilidades para intervenção, como “paladinos do planeta”;
- Inclusive para o uso de força militar – contra governos soberanos que se recusarem a seguir essa cartilha.
Como sempre fazem, os imperialistas novamente estão camuflando e tentando mascarar os seus problemas, transferindo a crise do capitalismo para a periferia do sistema e, dessa forma, estão forjando uma nova configuração para facilitar a manutenção do domínio que detém do cenário geopolítico:
- Agora promovendo o surgimento de um projeto de “direita moderada”;
- “Politicamente correta e polida” – aos moldes do partido democrata estadunidense – cujo posicionamento dito “moderado” é apenas um engodo, mais uma jogada do imperialismo para aumentar o seu poder para impor sua agenda de saques e cercear a autodeterminação política e econômica dos países.
Portanto, particularmente falando dos países e povo latino-americano, o imperialismo (maquiando os seus reais objetivos de colonização) vai usando a pauta ambiental como uma bandeira (falsa) – do mesmo modo que fazem com a pauta identitária – para confundir o eleitorado e tirar o foco dos problemas que realmente interessam:
- Destacadamente, o saque ao patrimônio público, financeiro e estatal, a retirada dos direitos sociais e a eliminação da agenda orientada para a promoção do bem-estar das populações locais simplesmente para garantir os recursos para gerar os lucros (insaciáveis) dos grandes conglomerados capitalistas;
- Ficando absolutamente claro que os problemas ambientais também não podem deixar de ser observados sob a ótica da manipulação política.
Não há consenso na comunidade científica sobre as questões climáticas e precisamos ter a clareza que as questões relacionadas à ecologia não se estabelecem fora do contexto da luta de classes (ver também aqui, aqui, aqui e aqui):
- Ao imperialismo, nem de longe interessa questionar o sistema;
- Muito pelo contrário, apenas lhes interessa “resolver os problemas ambientais” por meio de “acordos” e movimentos de “mudanças de mentalidades” orientados para limitar a utilização de recursos e a produção nos países em desenvolvimento.
Assim, fazendo da descarbonização um “dogma”, mas deixando as suas causas intocáveis:
- Vai-se negando aos países em desenvolvimento o direito de usar estrategicamente suas riquezas e recursos naturais – em benefício do seu próprio povo;
- Determinando a permanência destes países na condição de dependência e de meros fornecedores de commodities .
Sob o “dogma da descarbonização”, sem energia abundante e barata, a desigualdade entre os países tardiamente inseridos no sistema de desenvolvimento capitalista e os países capitalistas centrais, cada vez mais seguirá aumentando:
- E a esperada reação dos (ingênuos ou não) radicais da natureza, influenciados por esses “altruístas argumentos em favor do ambiente” produzidos pelo imperialismo, cumpre crucial papel nesse contexto;
- Principalmente com a fervorosa militância biocentrista, fazendo uso de todos os expedientes, dramáticos, pseudo científicos e institucionais para estabelecer um caráter limitador e “pecaminoso” a qualquer tipo de produção, sem levar em consideração o caráter dinâmico do equilíbrio ecossistêmico que envolve todos os elementos biológicos, econômicos, sociais e climáticos locais.
Sob os arautos de verdadeiros “ecologismos de ocasião”, negligenciam-se as possibilidades de se produzir (de forma sustentável) em diferentes biomas – com a criação de imensos fragmentos “intocáveis” de terra:
- Os quais servem muito mais para impedir o acesso a recursos essenciais ao desenvolvimento econômico e social local sob o controle do Estado – do que propriamente para atingir o objetivo de preservar;
- E o que é ainda mais grave, abrindo-se a possibilidade para a criação de um ambiente favorável para produção (falsa e real) de conflitos e a realização de todos os tipos de negociatas e manobras (Ver também aqui e aqui);
- Favorecendo o avanço do garimpo e do desmatamento ilegal, a grilagem de terra, o tráfico de drogas, a lavagem de dinheiro, etc, abrindo perspectivas, inclusive, para se cogitar (por exemplo) a possibilidade de controle internacional da Amazônia.
Dessa maneira, terras que poderiam ser utilizadas de forma estratégica, agregando valor na base da pirâmide produtiva dos países que as detém, garantindo a conservação da biodiversidade e o manejo sustentável dos recursos naturais – de acordo com o interesse local, regional e nacional:
- Dificilmente conseguirão ser submetidas ao efetivo controle por parte do Estado;
- Facilitando a formação de um sistemático ciclo e criminalidade em torno delas.
Mas é preciso ir além e perceber que a pauta do “ecologismo”, ardilosamente teleguiada pelo imperialismo, atua em várias frentes e, noutra perspectiva (como uma pinça) temos os gigantes capitalistas do agronegócio agindo, entre outras coisas, para aumentar a produção de transgênicos, o uso de agrotóxicos e a liberação da compra de terras em solo nacional por fundos estrangeiros, fechando o cerco sobre os nossos recursos e solo.
Nesse contexto, a forte pressão pela expansão da fronteira agrícola e de mineração seguindo a ideia de expandir o “modelo Curió” de extrativismo, para o qual o alto escalão do Exército Brasileiro (que é quem realmente dá as cartas e comanda as diretrizes de governo há um bom tempo no Brasil) tem até um projeto de “desenvolvimento” – dependente e completamente subserviente aos EUA (ver também aqui):
- Revela, na verdade, um modelo político/econômico que nos remete de volta à condição de colônia em pleno século XXI;
- E expressa, não apenas o profundo grau de cooptação cultural e submissão desse pessoal, mas a pequenez do pensamento que têm sobre o real significado de nação, reduzindo o Brasil ao papel de um “grande fazendão” no cenário econômico global.
Assim, permitindo que o gado, o garimpo e o agronegócio (com livre acesso às corporações transnacionais) avancem sobre o Pantanal e a Amazônia e estabelecendo um profundo controle de informações e ideológico sobre a vida das pessoas e das instituições, através dos seus “prepostos” (ver aqui, aqui e aqui), o imperialismo vai conseguindo:
- Garantir a primarização da base produtiva brasileira, sufocando a nossa possibilidade de pujança e desenvolvimento industrial;
- Além da dependência econômica e tecnológica, promovendo devastadora produção de commodities (matérias primas), que são destinadas à especulação financeira nos mercados futuros e à geração de recursos para continuar sugando a riqueza do Brasil (de maneira ultra parasitária) – por meio de mecanismos macabros com o pagamento da famigerada dívida pública (Ver aqui e aqui).
A Monsanto, por exemplo, repassando enormes montantes financeiros para a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) – generosamente “apoiando pesquisas” – conseguiu a aprovação dos transgênicos (praticamente sem testes). E o acelerado avanço do uso de transgênicos no país, além de aumentar a dependência do Brasil quanto ao uso dessa “tecnologia”, determinou um grande problema para os agricultores brasileiros e mais uma enorme fonte de lucros fáceis para os grandes capitalistas:
- Com a “contaminação” de plantações feitas com sementes crioulas com a tecnologia patenteada pela Monsanto;
- E a geração de pagamentos de royalties por propriedade intelectual.
Sem dúvidas, o debate sobre a questão ambiental envolve inúmeras variantes, em torno das quais complexas e polêmicas discussões podem ser estabelecidas, mas:
- Da mesma forma que não é possível deixar de perceber a devastadora intervenção humana no ambiente, quando orientada pelo consumo desenfreado e pela busca insaciável de lucro e como o capital em crise, nessa sua voraz busca por lucros, é capaz de destruir a tudo e a todos;
- Também não é razoável imaginar que a mera instituição de “reservas ambientais” será suficiente para diminuir a vulnerabilidade na proteção dos recursos e a garantia da preservação do ambiente.
O ideal do capitalismo liberal – de crescimento ilimitado – não é compatível com o mundo limitado nem tampouco com a necessidade de harmonização e equilíbrio para o desenvolvimento dos Estados tardiamente inseridos no sistema e que encontram-se marginalizados pelo processo de expansão imperialista.
Portanto, se houvesse coerência no discurso, os defensores da descarbonização deveriam lutar contra a sociedade do lucro insaciável, do consumo desenfreado e do desperdício e pensar na organização de um sistema de produção cuja prioridade seja a garantia de oportunidades, de saúde, lazer e educação, e de comida na mesa de todas as pessoas – o que exige, o necessário combate à depredação capitalista que ameaça destruir o planeta e coloca todas as espécies em risco.
A satisfação das necessidades humanas de forma sustentável para a vida na terra reivindica outro modelo de sociedade:
- Um modelo que não seja baseado no consumo desenfreado, nem na maximização do lucro;
- Mas, sim, na ampliação (ao máximo) dos benefícios sociais – o que também significa dizer na máxima ampliação dos benefícios ambientais.
Se queremos realmente exercer a nossa soberania e autodeterminação, temos que nos livrar dos mecanismos de controle impostos pelo “progressismo ocidental” e suas “políticas” ambientais contrárias ao nosso progresso, assim como de todas devastadoras e implacáveis formas de intervenção humana no ambiente.
Perceber por trás do discurso imperialista de “oferta de um mundo melhor” – através da retórica ambientalista – imposições visando a garantia do acúmulo concentrado de capital central e não na periferia do sistema (como um mecanismo de dominação), é tão importante quanto enfrentar a depredação capitalista.
Ou seja, a transformação social e transição para uma nova sociedade sustentável depende de um implacável combate ao controle imperialista sobre os nossos países, nossas lideranças e nossas mentes (ver também aqui e aqui).
A luta anti-imperialista exige muita disposição e a capacidade para a luta se constrói no dia-a-dia: é resistindo que fortalecemos a certeza de que não seremos derrotados!
1 comentario en «Imperialismo ecológico e a narrativa do ambientalismo: o novo cavalo de tróia da burguesia»
Muito bom, Ricardo!
Apesar das citações do Molion, que vão gerar muitas torcidas de nariz.
Mas, foda-se, o importante é enterrar essa pauta eugenista e pensar um mundo da abundância. Não existem limites para o desenvolvimento (ou crescimento, tanto faz).