Por Ricardo Guerra
Levando em consideração os interesses populares e as necessidades dos trabalhadores, a atual conjuntura política brasileira apresenta um cenário muito difícil e complicado de atuação:
- Os movimentos de massas tradicionais encontram-se completamente fragilizados;
- E os mecanismos de contenção social estão se fortalecendo pelo medo do desemprego e também pela atuação de lideranças oportunistas – que esqueceram a luta de classes (ver também aqui, aqui e aqui) e reduziram o espírito de luta da esquerda ao campo dos interesses individuais e de grupos.
Cada vez mais distante da perspectiva revolucionária e combativa que lhe caracterizou o passado, a esquerda brasileira está afastada até mesmo da posição social democrata da qual se aproximou nos anos 1990 e hoje, totalmente tomada por pelegos – com suas principais “lideranças” chantageadas e completamente penduradas em dossiês:
- Segue atuando apenas como colchão de controle das massas;
- Claramente agindo no sentido da contenção e desmobilização de qualquer forma mais contundente de reação popular, contra a fome, o desemprego e a retirada dos direitos duramente conquistados pelos trabalhadores do Brasil (ver também aqui).
Sem o domínio da narrativa dos fatos e dos acontecimentos políticos que realmente interessam, a esquerda trocou a combatividade pela preocupação com a formalidade institucional, pensando exclusivamente nas eleições e limitando a sua atuação simplesmente a denúncias não muito contundentes – em sua maioria de caráter moral.
Dessa forma, enquanto as direções das principais organizações de massas foram sendo tomadas por arrivistas pequeno burgueses, agindo a serviço do massacre do povo brasileiro, sob o controle da burguesia nacional, completamente submissa ao imperialismo:
- A esquerda foi “se deixando inebriar” pelo canto da sereia da ideologia neoliberal;
- Cujo objetivo é descarregar o peso da crise do capitalismo mundial (que é a mais profunda da história) sobre os trabalhadores – e passa pela imposição de estados de sítios de maneira generalizada, como nunca visto;
- Colocando em cena mecanismos de repressão de forma aberta, com o apoio das forças armadas e de grupos fascistas locais (ver também aqui);
- Organizando aparatos institucionais que visam dar aos governos uma “perspectiva de legalidade” para monitorar, perseguir e punir qualquer um que seja contra seus interesses e ideologia (ver também aqui), ou seja, contra os interesses e a ideologia do império.
Diante desse cenário, mobilizar a militância e organizar o trabalho de base e o movimento de educação política popular – representa a tarefa mais necessária para o momento:
- Sendo fundamental, nesse processo, o mapeamento das iniciativas já existentes em cada local de moradia, de convivência e de trabalho;
- Para fortalecer a criação de espaços mais eficientes de comunicação e formação política para a luta de classes.
Demandas sociais só são contempladas com o povo organizado, mas a mobilização para a luta depende da superação do processo de alienação intelectual e cultural impostos à população.
Nesse sentido, é preciso pensar a ideia de Militância política como a representação de um modo de viver e conviver em comunidade, visto que apenas na luta diária e concreta da vida das pessoas pode ser configurado um ambiente permeado por uma aliança solidária para a construção de uma nova sociedade.
Portanto, pensando no grande desafio que é a continuidade no processo de construção de um cenário permanente de participação e mobilização popular:
- É muito importante construir estratégias para que todos sejam envolvidos e estejam realmente engajados nas ações e encaminhamentos realizados;
- De forma que a consciência de classe possa realmente aflorar e a educação política acontecer – em um ambiente repleto de significação na vida das pessoas.
A ideia de libertação do processo de expropriação capitalista é uma ideia que precisa ser vivenciada no dia-a-dia, em cada luta concreta, para as quais se exige a construção dos laços da solidariedade.
Nas ações para resolver os problemas comuns (coletivos e/ou individuais) na comunidade – é que os debates políticos ganharão vida, significação através da prática:
- Os laços de solidariedade estabelecidos a partir da ação concreta (coletiva) organiza e mobiliza muito mais as pessoas do que os debates políticos;
- E esse deve ser o embrião de um novo modo de produção – fundado em relações sociais igualitárias.
Enfim, o atual encaminhamento da situação política exige a formação de um pólo popular de resistência contra o massacre do povo brasileiro e dos povos latino-americanos – a partir da organização das bases:
- Elevando o conhecimento da população para a luta política;
- Dialogando com os trabalhadores nos locais de trabalho, convivência e moradia;
- Articulando suas experiências adquiridas, promovendo a consciência de classe e a organização e mobilização popular para a luta contra a expropriação capitalista, num contexto de solidariedade – orientado para a formulação de diretrizes para a emancipação coletiva.
Há uma parte da sociedade brasileira que não consegue enxergar a realidade e precisa compreender os reais motivos porque num país tão rico como o Brasil – a fome ainda campeia.
Faz parte desse processo, a caracterização clara e objetiva da conjuntura política atual:
- Estabelecendo uma linha de atuação prática para lutar contra o desmonte da nossa legislação trabalhista, lutar contra a fome e o desemprego imposto pelo golpismo, lutar contra a precarização, o subemprego e a crise econômica geral;
- Ao mesmo tempo que se luta contra a vergonhosa destruição do patrimônio nacional – principalmente através da entrega das nossas estratégicas empresas Estatais e a completa perda da nossa soberania.
Aos trabalhadores, na árdua tarefa de enfrentar aqueles que (em sentido contrário) agem para sufocar e impedir a reação, cabe impulsionar a luta pela base – fortalecendo o polo verdadeiramente revolucionário e anti-imperialista na esquerda nacional: contexto, no qual, a organização popular (para ter significação) precisa representar, antes de tudo, um modo de viver e de convivência social!