Manifesto pela “democracia” e o jogo eleitoral imposto pela burguesia

Manifesto pela “democracia” e o jogo eleitoral imposto pela burguesia

O Brasil tem um longo passado pela frente, sempre e quando continuemos de olhos fechados, acreditando que o que dizem de “democracia” tem muito mais de ditadura…

Por Ricardo Guerra

O jogo político ganhou esta semana mais um episódio para aguçar a polarização e estimular o embate entre Lula e Bolsonaro, com a apresentação do Manifesto em prol da democracia e defesa dos resultados das urnas nas eleições de 2022 – na sede da Faculdade de Direito da USP.

Apesar dos organizadores afirmarem que a elaboração do documento foi inspirada em movimento semelhante acontecido no ano de 1977, quando foi feito um manifesto em defesa da democracia em meio à ditadura com características imparciais e sem a intenção de apoiar qualquer candidato específico – como era de se esperar:

  • Lula tomou o documento (que conta com quase 1 milhão de assinaturas) como um importante ativo político para sua campanha;
  • Enquanto Bolsonaro continuou a criticar e a proclamar ameaças contra a democracia e a quem a defende – e desdenhou da iniciativa.

Sob a perspectiva da classe trabalhadora, principalmente diante das alianças feitas com Alckmin e com partidos burgueses para a formação de uma “frente ampla” visando derrotar Bolsonaro:

  • Nada indica que esse movimento seja capaz de promover qualquer perspectiva de iniciar o necessário processo de reversão das reformas ultraliberais, que nos desrespeita e nos ultraja enquanto seres humanos e cidadãos brasileiros;
  • E tampouco que possa concorrer para ajudar a derrotar o protofascismo em ascensão no país, apenas com uma possível vitória nas urnas.

O imperialismo estadunidense impõe (desde sempre) um verdadeiro massacre, subtraindo os recursos brasileiros e da América Latina até a última gota de sangue do nosso povo, e, aos trabalhadores, que precisam achar o caminho da reação e da luta contra essa crescente e trágica situação que nos conduz a fome, a precarização do trabalho e ao desemprego, está sendo oferecida a “frente ampla” como possibilidade de solução.

No entanto, pelo menos até o momento, a falta de sinalização quanto à formalização de um programa digno de representar a classe trabalhadora e a soberania nacional por parte da candidatura de Lula, revela muito mais um compromisso de coesão com a burguesia de que uma perspectiva minimamente revolucionária ou ao menos reformadora do sistema político-econômico brasileiro – em prol dos reais interesses do Brasil e do povo brasileiro.

Vencer Bolsonaro, unindo-se a históricos algozes da classe trabalhadora, para apenas obter a condição de melhor gerir o capitalismo dependente e rentista que domina o cenário brasileiro, não é suficiente – e a PLR América latina exalta a necessidade de verdadeiros levantes de massas, dotados de independência de classe e de conteúdo revolucionário, para que realmente possa ser revertida essa situação de penúria que estamos vivendo.

Não foi por falta de “frentes amplas” que chegamos ao ponto em que nos encontramos e não podemos esquecer que foi esse o modelo adotado durante toda a Nova República para enfrentar as crises políticas no Brasil, sempre excluindo os trabalhadores.

Bolsonaro encontra-se em processo de crescente desgaste por conta da aceleração da crise no Brasil e também porque, apesar de ter se esforçado, não conseguiu contemplar a política prescrita pela burguesia internacional de entregar completamente o Brasil para os grandes monopólios financeiros transnacionais.

Como a sua grosseira personalidade e a sua tosca imagem parecem não estar mais “colando” na sociedade brasileira:

  • O bolsonarismo, que precisamente apenas representa o caminho do atraso (da falta de empregos, da negação da vida e da exaltação da morte), não consegue mais arregimentar novos adeptos;
  • E tampouco é capaz de alavancar as mobilizações de outrora.

Diante desse quadro, o imperialismo e seus representantes locais (ver também aqui) resolveram “investir” na possibilidade de substituir Bolsonaro por uma opção mais suavizada, mas não menos entreguista de representação da direita – a chamada terceira via, que não conseguiu decolar – e rapidamente decidiram apostar todas as fichas em Lula para “exercer essa tarefa” de representação dos seus interesses no Brasil.

Mas, para garantir que não haja qualquer risco dessa “manobra” dar errado, todo um cenário foi e está sendo montado no sentido de empurrar Lula cada vez mais para a direita e lhe deixar (no mínimo) pressionado para atender os interesses do grande capital, em detrimento dos soberanos interesses do Brasil e das reais necessidades do povo brasileiro.

Dessa forma, investindo na criação desses mecanismos para a configuração de um ambiente aparentemente “suavizado” e que lhe seja favorável para dar continuidade à total destruição da nossa soberania, o imperialismo espera garantir o avanço da imposição da agenda neoliberal e a validação e ampliação de todas as manobras entreguistas aqui implementadas em seu favor –  de forma (vamos dizer assim) menos conflitante.

A política de vencer as eleições a qualquer custo e a conjuntura política totalmente organizada para favorecer a composição parlamentar, majoritariamente formada por representantes da direita e da extrema direita, caracteriza muito bem o que está acontecendo:

Portanto, mesmo que (a essa altura do processo eleitoral) Lula ainda consiga apresentar propostas plausíveis e pontos definitivamente favoráveis ao campo de luta popular e anti-imperialista:

  • A dificuldade de uma real possibilidade de sua representação enquanto governo trabalhista é notória;
  • E não podemos deixar de perceber que ele encontra-se completamente “emparedado” entre direitistas e desavergonhados entreguistas, servis ao imperialismo.

A política do imperialismo na América Latina é repleta de exemplos de como (legítimas ou supostas) representações de esquerda são usadas para encobrir o massacre contra os trabalhadores e o saque contra o patrimônio público, financeiro e estatal na região – e é preciso compreender que é necessário estabelecer uma hierarquia dos inimigos e adversários do Brasil e do povo brasileiro.

Para o povo brasileiro, é imperativo que Lula e as forças que o apoiam indiquem um posicionamento de imediato rompimento com qualquer possibilidade de vínculo com os representantes do capital improdutivo e de que vai investir ativamente na mobilização, organização e politização da classe trabalhadora, realizando a volta imediata às suas reais origens no trabalhismo.

Para a massa de trabalhadores, apenas interessa uma perspectiva de poder que seja orientada para a busca da construção de um Estado Nacional Soberano – que priorize a integração nacional e a justa distribuição da riqueza aqui produzida.

Mesmo havendo a melhor das intenções, a vitória da chapa Lula-Alckmin terá a sombra do entreguismo dos governadores, do congresso nacional e dos principais prefeitos, que serão novamente alçados ao poder por meio de um circo eleitoral ainda mais controlado:

No contexto da luta dos trabalhadores, manifestos e movimentos como a “frente ampla” se apresentam apenas como instrumentos paliativos e normalmente são manobras utilizadas pela burguesia para não perder o controle da situação política.

O bolsonarismo não irá desaparecer, simplesmente com a saída de Bolsonaro do poder central do país:

  • Afinal de contas, o bolsonarismo vem sendo e vai continuar a ser consolidado como movimento protofascista nas ruas;
  • E, seja com esse ou com outro nome, será usado como arma contra os movimentos de massas em situações como as que aconteceram em 2013.

É claro que é preciso banir Bolsonaro e todo o grupo que ele representa do comando central do poder no Brasil, mas, é fundamental nesse processo ultrapassarmos os limites estabelecidos pela vinculação dos movimentos populares às movimentações da burguesia e começar a trabalhar efetivamente pela formação de uma frente de luta realmente orientada pelos e para os interesses dos trabalhadores e de todo o povo brasileiro. 

Independentemente de frentes amplas, manifestações pela democracia e de Lula, a única forma de mudar a nossa situação atual é com união e uma contundente e decisiva atuação para a organização de uma Frente Única Operária para a luta.

Só o povo salva o povo!

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1 comentario en «Manifesto pela “democracia” e o jogo eleitoral imposto pela burguesia»

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