A burguesia portuguesa e brasileira foi “treinada” por uma das burguesias mais ardilosas de toda a história do capitalismo, a burguesia inglesa, que é especialista em manipular as lutas dos trabalhadores e dos povos do mundo.
Assim a historiografia oficial brasileira tem realizado um enorme esforço para caracterizar o Brasil como um país de preguiçosos e imbecis, o país onde nunca aconteceu nada e onde as classes dominantes sempre “nadaram de braçada”. O personagem de Walt Disney, o Zé Carioca, é uma das qualificações mais evidentes nesse sentido.
Na realidade, a Independência do Brasil não teve absolutamente nada a ver com uma suposta diarreia que teria pego Dom Pedro em São Paulo, a partir da qual ele teria decidido declarar a Independência.
O acúmulo das tendências independentistas e revolucionárias teriam convencido a Dom Pedro II a seguir as recomendações do seu pai: melhor declara a independência do Brasil você mesmo, se isso for inevitável. Foi exatamente o que Dom Pedro I teve como objetivo quando ele voltou a Portugal: conter as tendências revolucionárias que se desenvolviam e canalizá-las pela via institucional o máximo possível.
O Brasil é um país que tem muito pouco de pacato e cordial!
A história do Brasil é a história do saque, a corrupção institucionalizada e o massacre da maioria da população.
Durante os primeiros 200 anos da Colônia, foram assassinados mais de quatro milhões de indígenas, dos quase seis milhões que habitavam o nosso país. Deles restam hoje apenas umas centenas de milhares.
Com o auge da cana de açúcar, o Brasil se tornou o país onde mais chegaram escravos negros trazidos da África; quase cinco milhões, ou 15 vezes a mais dos que foram levados aos Estados Unidos.
No século XIX, aconteceu o esgotamento do ciclo econômico da cana de açúcar. Os escravos que tinham sido usados como carne de canhão durante a Guerra do Paraguai (1864 – 1870), obtiveram a liberdade decretada pela Lei Áurea da Princesa Isabel em 1888.
Na realidade, o novo ciclo econômico do café precisava de mão de obra mais especializada.
A nascente burguesia brasileira estava muito pouco preocupada com a situação da população e muito preocupada com seus lucros. Por esse motivo, não investiu na educação dos escravos e promoveu a imigração de estrangeiros europeus e japoneses, uma mão de obra qualificada.
A maioria dos negros nem sequer tinha para onde ir. Eles continuaram como escravos semi disfarçados nas grandes fazendas ou passaram a se amontoar nas favelas do Rio de Janeiro e das grandes cidades brasileiras.
Ali temos um dos principais componentes da origem da brutalidade das contradições sociais no Brasil.
Muito pouco se diz sobre as mais de 70 revoluções e revoltas que têm acontecido.
Existiram dezenas de revoltas dos escravos que viveram nos chamados quilombos. O principal deles foi o Quilombo dos Palmares, liderado por Zumbi.
Houveram dezenas de revoltas armadas que precederam a Independência do Brasil, em 1822. E mais de 40 vieram a seguir.
Só para mencionar algumas: a Revolta de Carrancas (em Minas Gerais), a Revolta dos Malês e a Sabinada (na Bahia), a Balaiada (no Maranhão), Revolução Farroupilha (no Rio Grande do Sul), Insurreição Praieira (em Pernambuco) e a Guerra de Canudos (também na Bahia).
O século XX foi sacudido por vários acontecimentos que pouco tiveram de “cordiais”.
A Revolta da Chibata encabeçada pelo negro cabo da Marinha João Cândido em 1910, colocou a capital do Brasil de joelhos quando os praças tomaram os principais navios de guerra.
A guerra do Contestado, que aconteceu entre 1912 e 1916 em Santa Catarina e no Paraná, colocou em xeque o sul do Brasil.
A grande greve geral de 1917, iniciada por mulheres da indústria têxtil, paralisou a cidade de São Paulo durante mais de um mês.
O Movimento Tenentista manteve o Brasil em vilio até pelo menos a Revolução de 1930.
Só a Coluna Prestes percorreu mais de 25.000 quilômetros entre 1924 e 1927, em 13 estados do Brasil, enfrentando os esbirros da República Velha, sem nunca ter sido derrotada.