A capitulação e degeneração do PCO
Até hoje todas as provas factuais apontam o caráter verdadeiramente reacionário do governo de Luís Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin, mais Alckmin que Lula.
Lula, como é comumente conhecido no Brasil e no mundo, foi levado pela terceira vez presidente do Brasil. Ele vem dando mostras de ser um verdadeiro boneco de manobra do imperialismo.
No entanto, o Partido da Causa Operária, PCO, parece fazer um esforço titânico ou hercúleo para defender Lula e passá-lo como alguém em perfeita oposição ao imperialismo.
Mas os fatos não mentem!
No dia 23 de fevereiro, o Brasil, representado pelo embaixador Ronaldo Costa Filho, votou a favor da retirada das tropas russas das cidades de Donetsk, Lugansk, Zaporozhye, Kherson e Crimeia. O Brasil seguiu o entendimento e a resolução do imperialismo.
Esse fato aconteceu um dia antes de completar um ano da guerra na Ucrânia, promovida diretamente pela invasão e ingerência da OTAN (Aliança do Atlântico Norte), controlada diretamente pelo imperialismo norte-americano, fato que obrigou a Rússia a iniciar uma operação militar especial, até porque a sua própria existência estava em jogo.
A Resolução votada exige a “retirada imediata” das tropas russas da Ucrânia e pede “uma paz abrangente, justa e duradoura”.
Mas o que seria esta “paz justa” senão a rendição e destruição total e completa da Rússia diante de seus algozes imperialistas?
Mesmo sabendo de todos os meandros por trás das “boas intenções”, o Brasil seguiu o entendimento da política das potências imperialistas, renunciando de uma vez por todas de sua posição de neutralidade, mantida pelo até então presidente Bolsonaro.
O Brasil foi o único país dos BRICS que votou contra a Rússia. Os demais votaram a favor da Rússia ou se abstiveram.
Pasmem, a política externa do governo LulAlckmin está se apresentando por meio de vários fatos como muito mais à direita que a do governo de Bolsonaro/Mourão. Coisa que a “esquerda” rendida aos encantos do imperialismo e mantidas pela Open Society jamais confirmarão!
É no bojo da não confirmação do real caráter do governo LulAlckmin que o PCO se enquadra.
Não é de hoje que o PCO vem realizando manobras vorazes para defender o indefensável.
Após ter abandonado qualquer possibilidade de construir uma política independente e consequente, a qual realmente traduza os interesses da classe trabalhadora brasileira, o PCO se tornou o Partido da Causa do Imperialismo.
A fim de esquivar-se das críticas que vem recebendo diante dos fatos que se apresentam, o PCO passou a se apoiar em notas de rodapé das matérias jornalísticas.
Logo após a aprovação da Resolução da ONU, endossada pelo Brasil, Rui Costa Pimenta escreveu no Twitter:
“O governo russo, por meio do seu vice-ministro de relações exteriores, elogiou a posição ‘equilibrada’ do governo brasileiro e disse que está estudando a proposta de paz de Lula. Destacou ainda que o Brasil está sofrendo pressão do governo dos EUA, mas que o Brasil, diferentemente dos “satélites” dos EUA não quis apoiar o esforço de guerra contra a Rússia. Esta declaração do próprio governo Putin encerra o debate artificial sobre que o governo do PT teria se transformado em um satélite do imperialismo contra a Rússia.
A posição do governo brasileiro logicamente não é a nossa, que é uma posição revolucionária anti-imperialista de defesa de um país que sofre uma guerra por procuração do imperialismo contra ele.
No entanto, também não é uma posição de subserviência em relação ao imperialismo”.
Diante da declaração de Rui Costa Pimenta, vamos por parte.
Diferentemente do governo Lula, o governo da Rússia não está trocando o BRICS pela OTAN.
A declaração do vice-ministro de Relações Exteriores, Mikhail Galuzin, visa antes de tudo conservar o Brasil como um parceiro estratégico — “Nós estamos interagindo de uma forma construtiva nos Brics, no G20, na ONU e no Conselho de Segurança, no qual o Brasil tem um assento como um membro não permanente”.
Quando o ministro elogiou a posição “equilibrada” do Brasil, fê-la levando em consideração ao não envio de armas à Ucrânia — “Eu gostaria de enfatizar que a Rússia valoriza a posição de equilíbrio do Brasil na atual situação internacional, o Brasil rejeitou as medidas coercitivas unilaterais tomadas pelos EUA e seus satélites contra nosso país e se recusou a fornecer armas, equipamentos militares e munição para o regime de Kiev”.
No entanto, o ministro sabe muito bem, assim como todos os outros integrantes do alto escalão do governo russo, que o Brasil mais cedo ou mais tarde cederá aos pedidos do imperialismo.
O primeiro passo já foi dado: condenar a Rússia pela operação militar efetuada.
O segundo passo também já foi dado: isolar a Rússia ainda mais no cenário internacional.
Ousamos dizer que o voto dado pelo Brasil na aprovação da Resolução, contra a Rússia, tem um peso enorme no cenário internacional, isso porque o Brasil, país fundador e membro do BRICS, a votar contra a Rússia.
Quanto ao termo “pressão”, utilizado pelo ministro, soa muito mais como figura de retórica do que como um fato concreto.
O ministro assim procedeu para denunciar a ingerência imperialista sobre o mundo.
Lula não recebe pressão do imperialismo porque ele seria “nacionalista”.
O governo Lula/Alckmin é parte da agenda do imperialismo para a América Latina; foi imposto pelo próprio imperialismo norte-americano como parte da sua política para a região.
Todos os países da América Latina que saudaram a vitória de Joe Biden, votaram a favor da Resolução — México, Chile, Peru, Brasil, Argentina, Uruguai e Colômbia.
O que esses países têm em comum? Todos os atuais presidentes foram colocados pela ingerência do imperialismo norte-americano que atuou por meio das agências de inteligência, do Departamento de Estado (“diplomacia”), “mídias”, forças armadas e sistema financeiro. Ou seja, com todos os componentes de uma política abertamente militar, o que é “natural” considerando que vive a sua crise histórica mais profunda.
Cabe colocar que a América Latina, em especial a parte Sul, está sitiada pelas forças armadas estadunidenses.
Os Estados Unidos têm cerca de 850 bases militares em todo o mundo, incluindo mais de 76 na América Latina.
Entre as mais conhecidas, destacam-se: 12 no Panamá, 12 em Porto Rico, 9 na Colômbia e 8 no Peru, com o maior número concentrado na América Central e no Caribe.
Muitos podem perguntar: “A ausência de bases militares no Brasil não é um indício de soberania nacional e autonomia política?”
Isso não demonstra nada, visto que as forças armadas brasileiras, desde o fim da 2º Guerra Imperialista, estão mais para forças complementares dos EUA do que para um Exército Nacional Brasileiro, principalmente desde a imposição da Ditadura Militar (1964–1985).
Como exemplo, podemos citar a operação de invasão e genocídio Minustah no Haiti, liderada pelas Forças Amardas Brasileiras e Argentinas nos próprios governos de Lula-Dilma e de Néstor Kirchner, como parte da então política regional de George Bush Jr. empantanado na guerra no Iraque.
Agora vem a parte mais interessante do escrito de Rui Costa Pimenta, que vale a pena reescrevermos novamente aqui; veja: “A posição do governo brasileiro logicamente não é a nossa, que é uma posição revolucionária anti-imperialista de defesa de um país que sofre uma guerra por procuração do imperialismo contra ele.
No entanto, também não é uma posição de subserviência em relação ao imperialismo”.
Como um dirigente-mor de um partido, o qual insiste em ser denominado de “revolucionário”, ousa dizer que a posição do governo brasileiro não é a posição do PCO, quando, na verdade, a política do Partido foi totalmente abandonada para fazer, única e exclusivamente, a defesa do governo Lula/Alckmin? A atuação concreta do PCO e de seus dirigentes negam completamente a afirmação de Rui Costa Pimenta.
Atualmente a posição do governo é sim a posição do PCO e de seus dirigentes, tanto que qualquer um que ataque o caráter reacionário do governo Lula ou o denuncie como agente do imperialismo, logo é atacado com todo tipo de argumento pelo PCO, até mesmo com argumentos ad hominem, os quais não deveriam compor a agenda de um partido que se autodenomina revolucionário e classista.
Uma das últimas vítimas do “fanatismo” do PCO, na defesa sem limites do governo Lula/Alckmin, foi Andrew Korybko.
Andrew Korybko é analista político, jornalista e colaborador regular de vários jornais on-line, bem como membro do conselho de especialistas do Instituto de Estudos Estratégicos e Previsões da Universidade de Amizade do Povo da Rússia.
Ele publicou vários trabalhos no campo das guerras híbridas, incluindo “Hybrid Wars: The Indirect Adaptive Approach to Regime Change” e “The Law of Hybrid War: Eastern Hemisphere”.
Korybko vem, nos últimos meses, denunciando o caráter reacionário e de submissão ao imperialismo do governo Lula.
Ele apontou mais de uma vez e apresentou fatos contundentes da atuação política reacionária de Lula a favor das potências imperialistas.
Por mais de uma vez Korybko disse (em tradução livre) — “Lula recalibrou sua visão de mundo mais perto dos interesses dos EUA”.
Korybko assim coloca por causa da atual política externa do governo Lula, muito mais à direita que Bolsonaro.
Foi em cima das constantes denúncias bem fundamentadas de Korybko que o PCO o chamou de ser um idiota útil do imperialismo estadunidense, o que de fato é uma mentira deslavada própria de agentes do governo Lula/Alckmin.
Ainda que Korybko não seja um revolucionário e nem reclame para si a teoria e a política revolucionárias, ele foi um dos jornalistas e analistas políticos mais consequentes em denunciar as táticas e estratégias da ingerência do imperialismo.
Todo mundo percebe, em maior ou menor grau, o caráter reacionário e de submissão ao imperialismo do governo Lula, por que o PCO não consegue enxergar?
Na verdade, não se trata de enxergar ou não, trata-se de ignorar os fatos e, portanto adotar uma linha política que se projeta mais como quinta-coluna do imperialismo do que como um partido revolucionário.
Como disse outro jornalista famoso, quando na dúvida, “siga a trilha do dinheiro”.
A atual atuação política do PCO é muito mais grave e degenerada do que a política adotada pelo PSTU em 2015–6 frente ao golpe institucional.
Ainda que a posição de 2015–6 do PSTU tenha contribuído para o golpe e avanço do imperialismo sobre os trabalhadores brasileiros, a posição do PCO é mil vezes mais escandalosa porque esconde o real caráter reacionário do governo Lula/Alckmin, e ao esconder acaba contribuindo com a agenda do imperialismo para a América Latina.