Sobre os planos de paz na Ucrânia: o contraste entre a formulação chinesa e a brasileira

Sobre os planos de paz na Ucrânia: o contraste entre a formulação chinesa e a brasileira

A diferença entre o governo Chines e o Brasileiro em relação a proposta de paz para a guerra da Ucrânia.

The Saker Latam Published 26 February, 2023 by Quantum Bird

Quantum Bird – 26 fevereiro 2023

O governo da Republica Popular da China apresentou recentemente ao mundo suas propostas para alcançar a paz na Ucrânia. O documento, que está estruturado em 12 pontos, enquadra o processo de desescalação do conflito e extinção das hostilidades no contexto mais amplo dos princípios e práticas que deveriam nortear a segurança e manutenção da paz a nível global.

O documento chama para o abandono da mentalidade de jogo de soma zero, típica da Guerra Fria, e reafirma o principio da segurança coletiva, segundo o qual a segurança de um ator não pode ser alcançada às custas da segurança dos outros e reitera o papel da autoridade das Nações Unidas na manutenção do processo de paz. O documento completo circulou amplamente na mídia e pode ser encontrado na integra aqui.

O leitor astuto e com boa memória, notará que o documento emitido pelas autoridades chinesas nada mais é do que uma versão compacta das demandas de segurança apresentadas pela Rússia no verão de 2021.

Não existe nenhum chamado para devolução dos territórios anexados pela Rússia. Tampouco ouvimos das autoridades chinesas palavras e atitudes condenatórias contra a Operação Militar Especial. O documento foi divulgado durante a visita de Wang Yi a Moscow. Yi viajou para conversar com Putin sobre o aprofundamento das relações bilaterais da China com a Rússia.

Apesar de todo meu empenho, não fui capaz de encontrar um documento oficial contendo as propostas do governo brasileiro para a resolução do conflito. Assim, terei que confiar em relatos anedóticos que colhi de varias fontes, supostamente baseadas em declarações do presidente Lula e seu “chanceler”, Mauro Vieira.

Se entendi bem a natureza das propostas do governo brasileiro, trata-se da sugestão de formar uma especie de grupo de “Amigos da Ucrânia”, com países não-envolvidos no conflito, para conduzir o processo de negociações de paz. Pondo à parte o fato de que o próprio Brasil se tornou envolvido no conflito quando votou contra a Rússia na ONU, pode-se dizer que um clube de amigos já existe e é formado em primeira mão por todos os países da OTAN que estão enviando armas, dinheiro e mercenários para manter o conflito tão quente quanto possível.

Depois temos os países que por variados motivos, nenhum deles edificante, condenam sistematicamente a Rússia nas votações superensaiadas na ONU contra a Operação Militar Especial. Além disso, como não pude encontrar nenhum documento oficial com a proposta, tenho zero informação precisa sobre o papel da ONU nisso tudo ou qualquer formulação sobre as questões de segurança coletiva – mais precisamente, a falta delas – que estão no cerne do conflito.

Talvez o presidente Lula não saiba, e Mauro Vieira não se lembre, mas algo como um grupo de “Amigos da Ucrânia” também já existiu. Se chamava Acordos de Minsk I e II. A Ucrânia tinha dois amigos “neutros” lá, a França e a Alemanha, a Rússia não tinha nenhum. Os Acordos foram assinados por todas as partes e ratificados no Conselho de Segurança da ONU, mas nunca foram implementados. Os amigos da Ucrânia enganaram os russos, a população do Donbass e a comunidade internacional, e usaram o tempo no qual deveriam implementar os compromissos que assumiram para fazer o contrário, ou seja, armar a Ucrânia, fortalecer politicamente o regime nazista em Kiev e articular uma ofensiva sobre o Donbass. Eles mesmos confessaram, inclusive.

Portanto, é improvável que esse truque possa ser usado novamente. Mas, mesmo assim, eles insistiram em ventilar essa ideia…

Enfim, apesar do hype na mídia nativa, a “Fórmula Lula” mereceu pouca atenção pelo Sul Global, fora da esfera de influencia do ocidente coletivo. Por outro lado, Macron (França) achou que seria adequado reagir logo, e mandou um tweet:


A paz esteve no centro de nossas discussões em Paris durante a visita histórica do presidente Zelensky, com o chanceler Scholz. A Ucrânia demonstrou verdadeira coragem ao iniciar esta conversa com seu plano de paz de 10 pontos. Vamos continuar juntos nessa base @LulaOficial .

Embora na mídia nativa estejam dizendo exatamente o oposto, Macron parece ter descartado a proposta de Lula com um tweet… (a expressão de um vira-lata rejeitado passa-me pela mente).

Então fica a pergunta: o que o Brasil ganhou com a condenação da Rússia ao lado de Biden e o voto vexatório correspondente na ONU?

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