O avanço das greves em 2022: continuar as lutas por melhores salários e condições de trabalho!

O avanço das greves em 2022: continuar as lutas por melhores salários e condições de trabalho!

Operários/as da refinaria da Petrobrás em Canoas (RS) em greve no início de 2023, dando continuidade ao avanço das greves ocorrido no Brasil em 2022. Enfrentando os patrões, os pelegos e a “justiça”, a combativa greve na refinaria indica o caminho a se seguir: contra o aumento da carestia e da exploração, que permanecem em 2023, elevar a mobilização é a única solução.

Matéria de Cem Flores

Em 2022, foram registradas 1.067 greves, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE). Com isso, ocorreu no ano passado a maior quantidade de greves desde 2019. Esse é um dado muito relevante para a luta das classes trabalhadoras hoje no Brasil, pois indica um crescimento nas greves pelo segundo ano consecutivo. Ainda estamos em quadro de recuo muito grande da luta, mas sinais de reação estão aparecendo.

Essas paralisações e enfrentamentos nos locais de trabalho são fundamentais à causa dos/as trabalhadores/as. Como aprendemos com Lênin: “as greves ensinam os operários a unirem-se, as greves fazem-nos ver que somente unidos podem aguentar a luta contra os capitalistas, as greves ensinam os operários a pensarem na luta de toda a classe operária contra toda a classe patronal e contra o governo.”

No atual contexto de piora significativa nas condições de vida dos/as trabalhadores/as e de ofensiva dos patrões, essa resistência do proletariado e das demais classes trabalhadoras ganha especial relevância.

Uma tarefa central para 2023 será dar continuidade à essa reação dos/as trabalhadores/as por meio da continuidade do crescimento dos movimentos grevistas. Aprender com as lições dessas lutas e descobrir, no próprio correr das lutas, onde residem nossas forças e quais são as fraquezas do inimigo de classe. Retomar nossa iniciativa na luta de classes, também através da organização e das mobilizações nos bairros, no campo e nos protestos de rua. Só assim, poderemos barrar os ataques dos patrões e alcançar novas conquistas.

A situação das greves nos últimos anos: ascenso e recuo

O Brasil viveu um forte ciclo de greves entre 2013 e 2016, com uma média de cerca de 2 mil greves anuais. Esse período também foi marcado por grandes manifestações de rua das classes dominadas, por melhoria dos serviços públicos, contra gastos do governo com os megaeventos esportivos, etc., a começar pelos protestos de junho de 2013, que completam uma década este ano.

A partir de 2017, as greves caíram ano após ano. Em 2020 e 2021 voltaram ao baixo patamar de pouco mais de 600 greves por ano – ainda assim, com pandemia e quarentenas, acima do número dos anos 2000. Nesse refluxo, as greves também se tornaram mais defensivas e recuadas. Também tivemos diminuição dos protestos de rua nesses anos, apesar de importantes exceções, como os protestos antifascistas.

Os fatores que explicam esse recuo recente das greves são vários. Em primeiro lugar, o elevado desemprego resultado das fortes crises de 2014-2016 e 2020, que reduziu enormemente o poder de barganha dos/as trabalhadores/as. Nesses períodos de refluxo, a taxa ampliada de desemprego, calculada pelo IBGE, ficou sempre acima dos 20%. A informalidade também cresceu muito, atingindo mais da metade dos/as trabalhadores/as considerados empregados no país, significando que muitas dezenas de milhões de trabalhadores/as têm que se virar como podem para tentar sobreviver.

Em 2020 também tivemos o pico da pandemia, reduzindo em todo o mundo os protestos e greves. Novamente, importantes exceções ocorreram, como as “greves sanitárias” em vários setores e a onda de protestos antirracistas iniciada nos EUA.

Associado às crises, houve também uma ofensiva dos patrões e de seu estado. A repressão atingiu novos patamares, também como reação ao ciclo de lutas anterior. A maior integração e intervenção das corporações militares, dentre outras ações de estado de exceção se tornaram cotidianas em atos e mobilizações. Uma nova força política, fascista, consolidou-se no país. A legislação se tornou bem mais avessa à luta sindical, sobretudo após a reforma trabalhista de 2017.

E, para completar, continua a hegemonia do peleguismo nas entidades sindicais e movimentos populares. Os pelegos sempre apostaram na subordinação aos patrões e no atrelamento com o estado. Assim, cumpriram um papel de desorganizar as massas exploradas para a luta. A taxa de sindicalização caiu em todo o período do petismo e continuou a cair com Temer e Bolsonaro. Com o estourar da crise econômica, em contexto de luta mais dura, o movimento sindical pelego não reagiu – apostando novamente na via eleitoral e no retorno à máquina governamental. Mesmo os pelegos estando bastante desacreditados, não conseguindo iludir as massas como antes, e mesmo com muitas lutas se dando à revelia e contra eles, ainda não se consolidaram no país organizações autônomas de trabalhadores/as que consigam organizar e estimular as lutas e virar a página do peleguismo reinante. Esse é também um dos indícios da fragilidade e da crise do campo revolucionário.

É desse ponto de partida recuado que ocorreu o crescimento das greves de 2022. Se elas podem representar uma saída do “fundo do poço” da luta sindical, ainda apresentam várias limitações e contradições a serem superadas para apresentarmos uma resposta à altura dos ataques patronais em curso.

As greves em 2022

Em 2022 houve uma conjuntura mais propícia à luta sindical. A começar pelo significativo recuo da pandemia. Por conta dos altos índices de vacinação, a letalidade da covid-19 se mostrou bem menor e as medidas de distanciamento foram abandonadas. E, apesar da situação do mercado de trabalho continuar difícil, o desemprego deu uma trégua ano passado, estando no menor patamar desde 2015.

Ao mesmo tempo, a inflação, que explodiu em 2021, continuou corroendo o poder de compra das massas, defasando os salários. A carestia de vida apertou e lançou várias categorias à luta, enfrentando os patrões, os governos e os pelegos. Mostrando que nenhum refluxo na luta de classes é eterno. Onde há exploração, há resistência, luta!

Em nossa publicação analisando o primeiro semestre de 2022, já indicávamos que estávamos em uma significativa retomada das greves, iniciada timidamente em 2021. Apenas no primeiro semestre já havia ocorrido 663 greves, mais do que em todo o ano de 2020. Também mostramos que o funcionalismo público era o setor com maior quantidade de paralisações.

O ano de 2022 se confirmou enquanto saída do “fundo do poço”, superando novamente o patamar de 1.000 greves, o que não acontecia desde 2019. Em relação ao ano anterior, as greves cresceram 48%. Em termos de horas paradas, foram 54.440 em 2022, aumento de 67% comparado com 2021.

No ano passado as greves se concentraram no primeiro semestre, assim como as lutas por reajustes salariais. Depois houve uma desaceleração, que no caso dos servidores públicos pode estar vinculada à proibição legal de aumentos salariais nos meses que antecedem as eleições e para o setor privado à atuação dos sindicatos pelegos para não “atrapalhar” suas campanhas eleitorais. No último trimestre de 2022, foram menos de 60 greves mensais.

O funcionalismo público foi o setor que puxou o aumento das greves em 2022, com mais da metade (54%) da quantidade e parcela ainda maior das horas paradas (70%). O setor privado se encontra em uma estagnação: desde 2020 não rompe o patamar de cerca de 400 greves anuais. De certa forma, a luta grevista no setor privado ainda não saiu do fundo do poço, o que indica uma importante fragilidade e limite da atual retomada na luta de classes da classe operária e demais classes trabalhadoras.

Essa estagnação do setor privado é um indício do grande nível da ofensiva patronal nesse setor, o principal do mercado de trabalho brasileiro, e do nível de desorganização desses trabalhadores/as. Também representa um fato inédito das últimas décadas, pois o funcionalismo público normalmente não “puxa” avanços grevistas. O último ciclo grevista foi primeiro puxado e mais sustentado pelo setor privado, e de forma ainda mais forte nas greves dos anos 1980-90.

Em 2022, as greves do funcionalismo, em sua maioria, foram por reajuste salarial e garantia do piso salarial. Elas se concentraram no início do ano e tiveram forte protagonismos das categorias de educação municipais. Também foram mais longas e ofensivas. Já a pauta mais recorrente do setor privado foi o pagamento de vencimentos atrasados, recorrente nos últimos anos. Foram mais curtas e defensivas também, mantendo-se no mesmo ritmo ao longo do ano. Importante ressaltar, no entanto, que o funcionalismo público e o setor privado, em vários pontos, apontam para modelos de greves diferentes, porque também possuem regime de contratação e trabalho diferentes.

O operariado presente no setor privado, especificamente, se encontra em baixo nível de organização e luta. As categorias da indústria representaram apenas 12% das greves em 2022. Nos anos de 2012 e 2013, período de várias greves operárias “selvagens”, essas categorias representaram em média 30% das greves gerais.

Mas nem só de limitações se resumiu a luta sindical de 2022. Além do avanço do número de greves no geral, houve um avanço das pautas propositivas, como a luta por reajuste nos salários. Ela não ocorreu apenas no funcionalismo público. Juntamente com a pauta por ticket e cesta básica, a reivindicação por reajuste esteve presente em cerca de 30% das greves no setor privado.

Essas pautas continuam centrais para a luta em 2023: a inflação de alimentos no ano passado continuou em dois dígitos, junto com outros itens básicos, e deve continuar aumentando esse ano. A carestia atinge fortemente as classes trabalhadoras e só na luta encontraremos solução.

No geral, os reajustes em 2022 também foram melhores – em parte porque a inflação geral foi menor se comparada com 2021. Conforme gráfico do DIEESE, as negociações salariais que ficaram acima do INPC aumentaram de 15,2% para 24,3%. Ao mesmo tempo, as que ficaram abaixo reduziram de 45,8% para 39,5%. A pequena melhoria também foi identificada pelos dados da Fipe.

Mas é importante destacar que a redução do INPC, de 10,2% em 2021 para 5,9% em 2022, foi impactada pelo pacote eleitoreiro de Bolsonaro, que reduziu impostos sobre gasolina e energia elétrica. Sem essas duas medidas, o INPC teria ficado acima de 8% (refletindo melhor o crescimento das despesas das famílias trabalhadoras) e os resultados das lutas por reajuste seriam bem piores para a nossa classe do que os demonstrados no gráfico abaixo.

Continuar a luta por melhores salários e condições de trabalho em 2023!

2023 deve ser um ano de forte desaceleração econômica no mundo e no Brasil. As perspectivas para os/as trabalhadores/as não são nada boas. Com estagnação econômica ou recessão, a recente melhoria do desemprego deve parar e até reverter. A carestia de vida também não apresenta folga: os salários não tiveram reajustes necessários para repor o poder de compra.

A luta das massas exploradas no Brasil tem reagido através das greves, mas ainda se encontra em um patamar muito baixo e recuado. Essa reação ainda não chegou no setor privado, incluindo a massa operária. Temos o desafio de continuar avançando nessa reação, seguir os recentes exemplos de enfrentamento e fortalecer as lutas que certamente acontecerão por melhores salários e condições de trabalho.

Também é preciso aliar essa retomada e reorganização dos locais de trabalho com as formas de luta e união presentes nas periferias do país e nos enfrentamentos ocorridos no campo. Elevar de uma forma geral a resistência, unir os processos já em curso.

Para cumprir essa tarefa, não podemos cair na ladainha do novo governo e suas velhas táticas de cooptação e paralisia das lutas. Já vimos no que resultou os “progressos” do petismo no período anterior: ainda mais desorganização e fragmentação, dificuldade em enfrentar a atual ofensiva. Sem avanço na independência de classe, sem combater o peleguismo, estaremos condenados a repetir o mesmo erro.

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