O aperto da maior crise capitalista de todos os tempos sobre a América Latina
1. A crise capitalista atual faz parte da continuidade do colapso capitalista de 2008 que ainda não se fechou e que tem tensionado de maneira muito forte todas as leis de funcionamento do capital.
2. Os volumes de capitais fictícios têm aumentado até níveis insuportáveis, gerando crescentes dificuldades para a reprodução ampliada do capital, mas os monopólios dependem intrinsecamente da especulação financeira para obter lucros.
3. O capitalismo de estado, a concentração da riqueza e a massificação da pobreza e as guerras pelo controle do mercado mundial vão de mãos dadas do aprofundamento da crise estrutural do capitalismo que está na base das revoltas e das revoluções.
4. Em 2019, uma grande crise capitalista esteve prestes a explodir novamente, mas foi controlada pela “pandemia” que, sob o disfarce de uma crise sanitária e com a escalada da repressão, permitiu a transferência semi-camuflada de trilhões para os grandes capitalistas. Foi assim que o endividamento foi às nuvens. Só a dívida pública dos Estados Unidos passou de US$ 20 trilhões para quase US$ 33 trilhões. Essa contenção durou pouco mais de dois anos.
5. No início de 2022, a crise estava prestes a estourar novamente, mas acabou sendo contida por meio da guerra na Ucrânia, à qual a Federação Russa foi arrastada, permitindo que a principal potência mundial catapultasse seu complexo industrial militar. Os efeitos colaterais têm sido enormes, começando pela desestabilização da Europa, o grande aperto da América Latina, a desestabilização da África Ocidental, onde governos de cunho nacionalistas apoiados diretamente pela Rússia têm chegado ao poder, e o aumento das contradições intercapitalistas na região Pacífico da Ásia.
6. A inversão das taxas da especulação financeira é um dos sintomas que sempre tem antecedido às grandes crises, junto com grandes guerras.
7. A economia capitalista está quase engripando. Para que a sacrossanta propriedade privada dos meios de produção possa mais ou menos funcionar, os monopólios requerem de enormes e crescentes volumes de capitais fictícios, gerados pelos estados, sem lastro produtivo.
8. No contexto em que os níveis de endividamento atingiram volumes apocalípticos, impossíveis de serem desmontados por meio de mecanismos “normais”, o imperialismo tenta desatar esse nó por meio de guerras, cada vez mais perigosas e maiores.
9. Não há dinheiro, ao mesmo tempo que há excesso de dinheiro. A especulação financeira funciona como uma espécie de buraco negro que absorve todos os principais recursos da sociedade para que as supergrandes empresas possam ter lucros.
10. Nesse contexto, o aperto dos regimes políticos, que vai da mão de intensas campanhas de propaganda, estão à ordem do dia.
11. Da Operação Gládio, o imperialismo norte-americano passou à Operação Gládio 2.0 em escala mundial, que denominou “neoliberalismo” na década de 1980. Hoje já estamos na sua terceira ou quarta versão. O efeito colateral tem sido a cooptação das direções das organizações de massas, o que tem levado à sua quase destruição e portanto, também ao enfraquecimento do principal mecanismo de contenção social, as burocracias operárias.
12. Preparando-se para uma grande guerra, o imperialismo norte-americano, que é a principal potência mundial, precisa manter pacificada a sua retaguarda, seu quintal traseiro, a América Latina. Até porque é sua fonte de matérias-primas e recursos, e de mão de obra barata. Por isso, aumentaram as manobras para preservar os ataques brutais contra os povos latino-americanos, neste período com governos de “esquerda” hiper direitizados.
Ao mesmo tempo, as margens de manobra têm sido muito limitadas, como ficou evidente no caso do Peru, com as várias tentativas para depor o Presidente Pedro Castillo, depois de tê-lo empurrado à direita, que culminou no golpe de estado do 7 de dezembro de 2022. O efeito colateral foram enormes protestos populares. Somente nas Primeira e Segunda Tomada de Lima, que aconteceram entre os meses de dezembro de 2022 e fevereiro de 2023, as forças repressivas assassinaram mais de 70 pessoas.
13. A Terceira Tomada de Lima no dia 19 de agosto de 2023, com várias manifestações importantes até o 29 de agosto colocou milhões de pessoas nas ruas. A luta no Peru representa apenas um lembrete de que os povos latino-americanos tendem a acordar, mesmo nos “queridinhos” do imperialismo, como mostraram as revoltas populares no Equador e no Chile em 2019 e na Colômbia em 2021, por exemplo. Novas direções e novas organizações de massas começam a aparecer no cenário da luta de classes.
14. Na Argentina, as greves que passam por cima da burocracia sindical têm sido recorrentes. A situação econômica é de falência generalizada. Instituições importantes, como Anses (previdência social) e vários bancos públicos, foram saqueados para manter a Argentina “na Comunidade Internacional” pagando a ultra corrupta dívida pública, que já foi paga várias vezes. O FMI (Fundo Monetário Internacional) e o imperialismo norte-americano exigem um governo de unidade nacional para salvar seus agentes. Já o fizeram no último ano do governo Macri, em 2017, quando lhe deram US$ 47 bilhões, que foram usados em grande parte para manter viva a direita nas últimas eleições nacionais. Agora as reivindicações são muito mais duras, com ataques muito mais duros contra os trabalhadores. Nesta situação, e considerando a crise internacional, uma nova revolta popular na Argentina é praticamente inevitável.
15. Na Bolívia, as reservas cambiais estão quase no fundo. O governo do ex-ministro da Economia “neoliberal” de Evo Morales, Luis Arce, busca soluções através do lítio e do estanho, fazendo um acordo com a China e a Europa, e submetendo-se, ao mesmo tempo, às pressões dos Estados Unidos. É uma espécie de último suspiro do cisne, que se repete por toda a região.
16. No Equador, a crise do governo Guillermo Lasso reflete uma situação que decorre do governo de Lenin Moreno, que expulsou Julian Assange da Embaixada em Londres em troca de um empréstimo de US$ 4 bilhões do FMI. O uso do dólar como moeda nacional por décadas e a dependência das exportações de petróleo deixaram o país muito exposto às contradições dos Estados Unidos e à crise mundial. O papel das burocracias locais repete o papel desastroso geral enquanto aumenta a pressão das bases, principalmente sobre a Conaie (Confederação Nacional dos Indígenas do Equador). O indigenismo equatoriano foi totalmente cooptado pelo imperialismo enquanto o correísmo está amarrado para voltar a atuar como bombeiro das lutas populares.
17. No Chile, a pressão da extrema direita sobre o governo Boric ameaça explodir o governo em caso de derrota no referendo constitucional de dezembro de 2023, controlado pela extrema direita.
18. Na Colômbia, os acordos de paz com o ELN (Exército de Libertação Nacional) não têm sido suficientes para estabilizar a situação no principal estado narco-paramilitar da região. As medidas tomadas pelo governo Petro não foram além de cosméticas, onde os grandes problemas nacionais vão longe. A começar pela questão da soberania nacional com a existência de nove bases norte-americanas, cujo objetivo é fundamentalmente controlar a exportação de cocaína. A economia sofre com as flutuações dos preços do petróleo e das matérias-primas agrícolas, enquanto a situação da população só piora.
19. No México, a dependência dos Estados Unidos é mais do que umbilical. As remessas dos imigrantes são um dos principais componentes da economia, juntamente com o turismo (principalmente norte-americano), as exportações das maquiladoras para os Estados Unidos e o petróleo também exportado para os Estados Unidos. É claro, retórica à parte, temos uma situação em que qualquer gripe nos Estados Unidos tem o potencial de se transformar em pneumonia. No México, existe uma gigantesca classe operária metalúrgica que trabalha nas “maquiladoras” que exportam aos Estados Unidos; 80% das exportações têm como destino esse país, o que implica a extrema dependência e integração aos nossos amos do Norte.
20. No Brasil, o governo Lula/ Alckmin entrou numa profunda e irreversível direitização, atuando como um governo FHC 3.0. O controle social tem como base a relativa estabilidade econômica que depende da captação de recursos da especulação financeira, dos capitais andorinhas, com as taxas de juros mais altas do mundo. Obviamente, a abrupta migração desses capitais levará o Brasil e toda a região a uma crise sem parangão, que fará com que a crise dos anos de 1980, que deu lugar a um enorme ascenso de massas, pareça uma brincadeira de crianças.
21. Os movimentos na direção da desdolarização, da moeda única, do comércio com a China em iuanes, da expansão dos BRICS, do funcionamento do Mercosul ou da Unasul, são ações puramente cosméticas enquanto a soberania da região continuar sob a bota do imperialismo.
21. No geral, se fala da crise da esquerda desde há várias décadas. Mas esta crise, principalmente a crise da “esquerda” institucional anda de mãos dadas com a crise de todo o regime burguês.
22. O cenário político atual é o mais favorável para organizar os trabalhadores e as massas para a revolução considerando a profundidade da crise capitalista e da “esquerda” institucional. A crise do capital destruiu a maioria dos importantes mecanismos de contenção social, como os sindicatos, movimentos sociais e partidos trabalhistas oportunistas. Obviamente, a burguesia, além da “esquerda”, se vale do aperto do regime político e do fortalecimento dos grupos fascistas.
23. A dificuldade deste período é atuar de acordo com as tendências e as tarefas necessárias para sermos um fator político na luta de classes no período seguinte, com novos métodos e formas de organização, estabelecidos a partir do entendimento da nova realidade, na qual as receitas prontas do passado ajudam pouco.
24. A tarefa concreta é organizar a luta revolucionária desde o movimento de massas para derrotar o imperialismo e a burguesia. Precisamos de novas soluções revolucionárias para os problemas atuais aproveitando as experiências anteriores.
Síganos en el Canal de Telegram https://t.me/PLRAmericaLatina