As eleições tirarão o Brasil da crise?

As eleições tirarão o Brasil da crise?

O movimento operário revolucionário, a Crise da esquerda, a crise política da direita, a perspectiva econômica e o que fazer. Olhe aqui uma análise de conjuntura e relação de forças para entender onde estamos hoje e que está por vir.

1. O papel e as perspectivas da crise econômica;

2. A crise política da direita;

3. A crise da esquerda: situação atual e perspectivas;

4. Movimento operário revolucionário: situação atual e perspectivas

Esses assuntos serão abordados principalmente em forma de teses para pontuar os componentes principais da análise da conjuntura nacional e mundial.

1. O papel e as perspectivas da crise econômica

1.  A crise econômica de 2008 não se fechou devido à impossibilidade do grande capital de colocar em pé outra política alternativa ao neoliberalismo.

A política que foi usada para controlar a bancarrota generalizada de empresas foi a inundação do mundo de créditos para poder fazer com que a economia continuasse funcionando e para que isso servisse como base da economia capitalista mundial que, no fundamental, é uma economia altamente parasitária e especulativa.

O grosso da economia mundial gira em torno da especulação financeira. Calcula-se que hoje somente os derivativos financeiros movimentem cerca de 40 vezes o valor do PIB mundial, que já é muito parasitário. Com a inundação do mercado mundial com crédito que tem como base recursos públicos temos um endividamento generalizado em todas as esferas, desde os estados, que estão todos super endividados, até as empresas e as pessoas.

Essa política tem se mostrado clara porque é um aperto dos monopólios e do grande capital em cima do controle dos aparatos do Estado burguês para poder funcionar. Sem o controle sobre o Estado nenhuma grande empresa dá lucro e todas elas iriam à bancarrota. A contenção da crise dura mais ou menos três anos, entre 2009 e 2012, quando aparecem novamente os seus sintomas e essa se aprofunda em 2015 em cima da aplicação de uma nova onda das mesmas políticas. Isso foi a base para que, no Brasil, em 2016, a presidente Dilma Rousseff, do PT, fosse colocada para fora do governo pela pressão do imperialismo.

A partir de 2019, a crise capitalista mundial avançou a passos largos, o que obrigou a burguesia a adotar medidas de cunho militar, como a “pandemia” e a imposição da guerra em Ucrânia.

2. Existem dois fenômenos sociais principais que são derivados da crise econômica e que impactam profundamente o movimento de massas: a inflação e o desemprego.  Temos um aumento exagerado do desemprego, principalmente nos países emergentes como o Brasil e a Argentina, mas em escala mundial é adotada uma forma camuflada para medir o nível de desemprego devido à manipulação das estatísticas.

Normalmente, os fenômenos sociais resultam em acúmulos. Então, quando os direitos vão sendo retirados aos poucos o efeito social acaba tendo um impacto mais gradual, mas levando em conta também que, de acordo com o desenvolvimento dos fenômenos sociais, o acúmulo gradual acaba levando, num certo momento, a uma grande explosão, a um problema que no caso da sociedade acaba levando às revoluções.

3. O endividamento não somente é generalizado senão que deixou o regime burguês de conjunto numa situação extremamente frágil e precária, com enormes dificuldades para enfrentar um novo colapso capitalista mundial. É o que está colocado para o próximo período, principalmente porque a crise não foi fechada e que todos os elementos que lavaram à crise de 2008 se encontram presentes e ainda com maior exacerbação em escala mundial.

Em países como a China, por exemplo, com alta estabilidade, o endividamento é de quase US$ 30 trilhões, sendo que a economia chinesa tem um PIB de US$ 17 trilhões. Um endividamento enorme em cima de recursos públicos.

E como fazer para controlar isso, para que não exploda de uma vez? Aqui entra uma questão muito importante: ao se integrar ao mercado mundial as exportações têm um grande papel e fazem parte do sistema capitalista mundial, então a burocracia chinesa é obrigada a ampliar o percentual do controle do mercado mundial.

Existem vários planos para isso como, por exemplo, o chamado «Novo Caminho da Seda» que implica na ampliação dos mercados chineses para o mundo todo, principalmente para a Europa, por meio da viabilização de toda uma série de vias rápidas para colocar os produtos chineses. Outros programas em paralelo com esse é o «Made in China 2025» que implica na produção de artigos chineses com maior valor agregado. Acontece que na hora que os chineses começam a aplicar recursos maiores em nichos de mercados mais especializados e de alta tecnologia entram em choque com o capital imperialista. Há uma série de problemas relacionados a isso e que se refletiram nos ataques norte americanos contra a ZTE e a Huawei, que são empresas chinesas de tecnologia de ponta, ou, em relação ao capital europeu, a proibição de compra de microcondutores de empresas chinesas.

A necessidade da China em expandir o mercado, não porque goste, mas principalmente para evitar uma explosão social interna, é um problema real, material, o que acaba gerando a exacerbação das contradições com o capital imperialista mundial, principalmente com os Estados Unidos. Essa disputa dos mercados sempre foi resolvida por meio de guerras.

4. A economia mundial, no geral, é deflacionária. Os preços têm caído nos países desenvolvidos devido à queda violenta do consumo com exceção dos países chamados emergentes como Argentina e Brasil onde a inflação, apesar das manipulações estatísticas, tem aumentado.

Isso também tem acontecido em alguns países desenvolvidos como, por exemplo, na Europa onde a taxa inflacionária nos últimos 12 meses já bateu os recordes dos últimos 40 anos.

A inflação é, aparentemente, baixa na comparação com a América Latina, mas não devemos esquecer que a emissão de moeda podre desses países é enorme. De toda forma o mercado acaba sendo inundado de papel moeda ou digital podre.

Como perspectiva futura temos que, devido aos mecanismos especulativos e a pressão exercida pelo grande capital para estabilizar os lucros, a tendência é que essas emissões de dinheiro podre aumentem no Brasil e na Argentina, países que se encontram na linha de frente.

5. A queda da taxa de lucros dos grandes capitais é um fenômeno recorrente. Segundo a revista The Economist do dia 28 de janeiro de 2017 a taxa de lucros caiu nos últimos 5 anos 25% e no Brasil e na Argentina muito mais.

E a queda a partir de 2019, ficou ainda muito pior.

O grande capital precisa fazer todo o possível para estabilizar os lucros para não quebrar. Por trás da crise política generalizada no mundo temos que existe a pressão justamente para estabilizar os lucros do grande capital. O problema central aqui é que tem de ser feito o necessário para estabilizar a queda dos lucros. O grande capital não consegue mais extrair lucros da produção e, por esse motivo, ataca cada vez mais os trabalhadores.

6. A América Latina se encontra na linha de frente da crise mundial. O parasitismo é mórbido. Isto pode ser observado claramente na Argentina e no Brasil. A situação da Venezuela é grave, apesar de relativamente estabilizada. É um país que pode implodir a qualquer momento, mas a situação nos demais países não é muito diferente.

Há poucos anos, nas eleições do México foi eleito como presidente o esquerdista, assim como Lula, mas não operário, López Obrador que tinha sido fraudado nos votos das últimas eleições de 2006 e 2013, que ele evidentemente tinha ganhado. Este faz parte de uma dissidência do PRI Partido Revolucionário Institucional que governou o México por mais de 70 anos e que acabou sendo substituído pelo partido clássico da direita PAN Partido da Ação Nacional que teve os grandes governos com o presidente Vicente Fox, que tinha sido presidente da Coca-Cola mexicana durante alguns anos e que aplicou o neoliberalismo no México. Isso gerou uma grande crise.

O objetivo do imperialismo quando impôs o atual presidente Peña Nieto era tentar estancar essa crise, que acontece num país vizinho dos  EUA, por meio aplicação de medidas de uma nova onda neoliberal, uma vez que o grande capital não tem uma política alternativa ao neoliberalismo que não seja através de grandes ataques contra os trabalhadores e da entrega das empresas públicas. Entregaram dessa maneira a PEMEX, Petróleos Mexicanos, e estabeleceram uma reforma trabalhista no modelo que querem impor no Brasil. Isso provocou uma grande resistência popular, principalmente no setor da educação, que queriam privatizar, o que levou à morte de professores e gerou uma grande crise. Para o próximo período essa crise na América Latina tende a aumentar e na Argentina e Brasil tem um grande potencial explosivo.

Não sabemos onde a crise vai estourar primeiro, se na Europa, no Japão, nos EUA, mas sabemos que vai estourar porque a situação está cada vez pior. Como tudo na vida e na sociedade é dialética a maneira como os fenômenos sociais se desenvolvem é por meio de um acúmulo de crises que depois darão lugar a uma grande explosão. As mudanças quantitativas se transformarão em mudanças qualitativas. Cada vez que novas medidas levam ao adiamento de um grande colapso este pode tender a se expressar com maior violência no próximo período.

E a crise na América se aprofunda com tanta intensidade que o imperialismo norte-americano está sendo obrigado a tirar Lula da cadeia e impô-lo como novo presidente do Brasil. Com o direitista Alckmin como vice, é claro.

2. A crise política da direita

1. A crise política avança em todo o mundo. Isso pode ser visto na Europa, inclusive na Alemanha, que é o coração do capitalismo europeu, onde Angela Merkel conseguiu finalmente em julho chegar a um acordo interno entre seu próprio partido, que é a União Democrata-Cristã, CDU, e a CSU, Democracia-Cristã da Bavária, estado esse que faz fronteira com a Áustria e que tem como capital Munique. A crise do regime político é enorme em cima do contágio da crise política mundial, principalmente devido à crise na Europa.

A crise na Itália, onde os principais partidos estão totalmente liquidados,   é fenomenal e foi construído  um governo como uma colcha de retalhos, com uma aliança entre a extrema direita, a Liga do Norte, com o partido populista do Movimento 5 Estrelas e com um primeiro ministro que não foi eleito por ninguém, por imposição da União Europeia. O grande baluarte desde a 2.ª Guerra Mundial até a década de 90, A Democracia Cristã, implodiu. O partido que a substituiu dando continuidade, o Partido Democrático, e o Força Itália de Berlusconi estão implodidos.

É possível verificar a mesma coisa em todos os países do mundo como Grécia e França. França com uma crise brutal. O governo Brexit na Inglaterra em extrema crise. Os EUA em uma situação de total loucura onde o governo de Donald Trump somente expressa essa política chamada dos «neoconservadores», os «falcões», que são quem realmente dão as cartas no governo. É uma política errática devido à própria crise.

2. A direita “neoliberal”, que foi colocada nos governos a partir da década de 90 em escala mundial, se encontra em uma crise fenomenal devido à própria crise econômica, à crise das políticas neoliberais e à impossibilidade de colocar uma outra política alternativa ao neoliberalismo devido ao enorme parasitismo. Isso se expressa na crise do bipartidarismo que é a forma de governo ideal para o grande capital com a alternância de dois partidos no poder, um mais conservador e um, aparentemente, mais liberal.

3. A política do grande capital, no momento, não é uma política parlamentar, com eleições. Obviamente é uma política parlamentar desde que se valha deste para aplicá-la, mas é uma política que, no fundamental, é extraparlamentar, por fora dos mecanismos parlamentares. Em linhas gerais, ela busca aplicar em escala mundial o bonapartismo, que seriam ditaduras burocráticas policiais cada vez mais duras, com figuras de «salvadores da pátria» que atuam por fora do parlamento e que nos países mais atrasados cada vez mais adquirem uma composição na qual os militares assumem um papel mais central.

4. As eleições no Brasil estão agendadas para outubro de 2022 e, aparentemente, irão acontecer, mas que no essencial são eleições abertamente golpistas, com o Lula imposto, como o candidato que está disparado na frente, e com uma grande pressão da extrema direita para impor um regime muito mais duro. Acontece que a engrenagem política está se esgotando e mostrando uma crise enorme e esse esgotamento inclui todos os partidos políticos.

O PT se encontra praticamente contra as cordas, com o enorme impacto da pressão da direita contra Lula e contra todos seus principais figurões. A mesma coisa ocorre contra o MDB com denúncias enormes. A mesma coisa com o PSDB. Com as revelações das últimas pressões da Lava Jato contra Alckmin, sobre corrupção no Rodoanel, que há anos se conhece, o núcleo central que continua ativo do PSDB se encontra pressionado. Foi por isso que o Alckmin foi reciclado como “esquerdista” garantidor dos interesses da direita desde dentro do governo Lula.

O STF é o pivô da crise do regime político porque, enquanto o golpe continua avançando e no momento temos uma ditadura do judiciário, o STF se encontra dividido. Há uma série de medidas que dificultam que o golpe continue avançando devido a um racha. Não são todos os ministros do STF que são abertamente golpistas. Há uma parte desses que está mais atrelada à área de centro do regime político.

Existe a pressão do imperialismo para que a política de Lula não possa ser colocada em prática, nesse momento, porque não há dinheiro para isso. Quando estava no governo Lula chegou a comprar mais de 150 mil sindicalistas e a controlar os movimentos sociais a partir de verbas que jorravam dos ministérios.

As contradições entre os ministros do STF ficam evidentes na sua atuação, mas se olharmos de perto a atuação de Alexandre de Morais, o novo presidente do TSE (Supremo Tribunal Eleitoral), vemos exatamente quem será imposto e a serviço de quem está essa política.

Nesta situação a política do PT é totalmente integrada ao regime político e sofre de podridão como um todo. É uma política de não mobilização das massas que é o único fator que poderia deter o avanço do golpe. Quando falamos de golpe precisamos entender que o imperialismo, o grande capital, precisa tirar o PT da frente para aplicar grandes ataques contra os trabalhadores. Enquanto isso o PT entrega Lula de mãos beijadas e aposta em quatro processos no STF.

5. A ditadura do Judiciário avança de maneira contraditória e não é suficiente para aplicar os grandes ataques sobre as massas que o grande capital precisa. O imperialismo precisa apertar cada vez mais o regime político para poder aplicá-lo.

6. A América Latina é a região que o imperialismo domina como o próprio quintal traseiro e o modelo para essa região é o Brasil, numa repetição do que aconteceu em 64. Então, o que acontecer no Brasil vai ser aplicado na América Latina inteira. Nesse sentido tivemos a visita do vice-presidente dos EUA, Mike Pence, que demonstrou a importância que aquele país dá ao Brasil para que os ataques continuem de maneira mais fluente. Que seja entregue a base de Alcântara, que seja entregue a Petrobras seguindo o modelo do México com a PEMEX e que o regime político seja endurecido.

7. A crise do imperialismo faz com que as contradições inter imperialistas aumentem principalmente entre EUA e Europa, e com as potências regionais, em primeiro lugar com a China.

3 – A crise da esquerda: situação atual e perspectivas

1. A esquerda integrada ao regime no Brasil é encabeçada pelo PT e aplica uma política de Frente Popular que é uma política de conciliação de classes com a direita, contra a organização independente da classe operária. Essa política se encontra numa fase terminal, lembrando que tudo na sociedade e na vida passa por várias etapas desde o nascimento, crescimento, idade adulta, estabilização, declínio e morte.

Conforme ficou claro com a prisão de Lula, que se entregou ao Judiciário, o PT diz que confia nessa instituição em um momento que havia um golpe encabeçado por este. Concentra toda sua política nos acordos com a direita. Dilma Rousseff se candidatou ao senado por Minas Gerais, significando com isso que não houve golpe nenhum, apesar de que “do nada” saiu do primeiro lugar para o quarto e não se elegeu. Não há uma organização contra o golpe. Há uma integração total ao regime político.

Então, a “esquerda” oficial apresenta uma política integrada ao golpe, portanto, é uma política suicida, catastrófica, mas que é a única política possível para um partido político da ala esquerda do regime, o PT. Este precisa se manter vivo nesse momento e para impedir que haja uma desfiliação em massa precisa sustentar os próprios oportunistas internos que compõem 95% de seus quadros. Não é uma política para mobilizar as massas, para organizar a classe operária mesmo que de maneira contida. É uma política para fazer conchavos com a direita.

2. Há uma integração total ao regime político e se trata da fase final da política de frente popular nessa etapa “neoliberal”. O PT foi um componente fundamental na aplicação das políticas neoliberais do governo de FHC, na sequência do governo de Itamar Franco. As chamadas câmaras setoriais aplicadas pela iniciativa do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, encabeçado pelo mega pelego Vicentinho, foram o prenúncio dessas políticas que ficariam mais claras no período seguinte. O PT não enfrentou em nenhum momento a política de FHC. A última grande greve de projeção nacional que ocorreu foi a dos petroleiros que foi liquidada por iniciativa do próprio Lula porque o PT queria se manter incrustado no regime político ganhando cargos e, portanto, melhorando as próprias condições de vida de seus integrantes.

A crise do governo FHC conduz ao governo Lula por meio de um acordo. Em 2002 Lula e a cúpula tucana vão aos EUA para pedir a bênção do governo de George Bush Jr., em troca da manutenção de todos os acordos com o imperialismo norte americano no futuro governo petista. Essa política acaba se fortalecendo, principalmente nos três primeiros governos do PT, mas entra em colapso a partir do quarto devido à pressão do grande capital.

3. A política jurídica da “esquerda” burguesa e pequeno burguesa é a política central que está orientada totalmente às eleições, aos cargos, à obtenção do dinheiro público. Não é uma política para organizar a classe operária. Cada vez mais essa política, que estaria na fase da juventude da Frente Popular, vai se distanciando e se transformando numa política de contenção das massas a partir dos aparatos.

O PT não tem mais militantes no movimento operário, inclusive porque esses trabalhadores  se encontram semiparalisados por conta dessa própria política, super oportunista, e também por conta dos mecanismos objetivos que foram colocados em prática pelas políticas neoliberais tais como, por exemplo, a transferência de boa parte de setores industriais para a Ásia, provocando  desemprego e aumentando a possibilidade de mais demissões caso o movimento operário reagisse. Com o objetivo de controlar os aparatos sindicais, totalmente atrelados ao Estado, abandona as lutas e reivindicações das categorias de trabalhadores que ficam sem direção que os mobilizem. Ou seja, fatores objetivos e fatores subjetivos atuando em conjunto contra a classe trabalhadora. O futuro dessa esquerda passa pelas eleições de outubro que são abertamente golpistas. A esquerda defende essas eleições para não implodir do contrário haveriam rachas nos partidos e a divisão em vários grupos.

4. O futuro é atrelado ao regime golpista e, portanto, essa esquerda que compõe a Frente Popular e os demais partidos que, supostamente, têm contradições com o PT, como o PSTU e o PSOL, pretendem ficar com o espólio petista. Pretendem seguir o modelo do Syriza na Grécia e do Podemos na Espanha, mas são partidos que não têm nenhuma base de massas. Tentam manter o aparato e por meio das eleições ganhar posições no xadrez político atual, dentro do regime político e contra os trabalhadores.

5. A burocracia é um fenômeno social fortemente integrada aos aparatos do Estado que em situações de paralisia se posiciona claramente contra os trabalhadores. A militância de base é mínima. É uma burocracia muito fraca e diante de um ascenso operário tende a ser ultrapassada rapidamente e a se dividir. Uma boa parte tende a se direitizar de maneira bastante acelerada.

6. A burguesia tentará manter no futuro o controle para conter eventuais ascensos de massas com novas Frentes Populares porque a atual já está morta. Tentará conquistar outras direções que vierem a surgir. Se o ascenso operário for muito forte, obviamente a burguesia usará a última cartada que possui que são os movimentos fascistóides,  abertamente fascistas ou ditaduras militares.

7. A avaliação marxista do caráter do regime burguês, do capitalismo e da revolução é totalmente válida porque analisa as forças em campo que se encontram atuando a partir da crise desse regime. O que às vezes dificulta essa análise é o fato de que o grande peso pesado social, que é a classe operária mundial, se encontra semiparalisado há alguns anos, mas uma vez que entre em movimento isso tende a ficar mais claro.

4 – Movimento operário revolucionário: situação atual e perspectivas

1. O movimento operário em geral se encontra semiparalisado, hoje, devido às políticas neoliberais que foram aplicadas e que, basicamente, desmantelaram o grosso das indústrias que são a base econômica da classe operária ocidental. As grandes indústrias foram transferidas para a Ásia onde temos uma classe operária nova que ainda não entrou em movimento.

Em países imperialistas como o Japão esta classe operária se encontra pacificada devido às condições de vida muito superiores que a média mundial. No Japão e na Alemanha o grosso do capitalismo funciona razoavelmente bem, mas as condições de vida têm caído bastante.

Países como, por exemplo, China, Indonésia, Coreia do Sul, Taiwan, Malásia, onde a classe operária nunca entrou em movimento, de maneira geral. Então, dentro dessa situação existe uma semiparalisia, mas, ao mesmo tempo, como temos de analisar a situação em desenvolvimento, verificamos que a crise econômica mundial está muito integrada e avança para um grande colapso capitalista mundial, que é o grande fator que deve colocar em movimento a classe operária mundial.

Mas a situação de pacificação do movimento de massas começou a mudar em vários países. E o que devemos esperar para o próximo período é nada parecido com paralisia.

2. As políticas “neoliberais” colocadas em exercício a partir da década de 1980 colapsaram a partir da crise de 2008. A propaganda de que o socialismo e o comunismo estariam mortos, que dizia que o dito stalinismo na União Soviética era comunismo, era socialismo, impulsionada pelo imperialismo, não é verdade. Socialismo é uma outra coisa.

Socialismo é um regime que supõe a superação histórica do capitalismo em escala mundial, onde a produção per capita, que é o grande indicador, teria de ser no mínimo superior à do país capitalista mais desenvolvido, EUA, Japão ou Alemanha, por exemplo.

Isso nunca aconteceu, e na União Soviética tivemos uma espécie de Frankenstein onde a produtividade per capita, no pico, chegou a ser cerca de um terço do que era nos EUA. E era um país atrasado e por isso sempre teve problemas. Um país que após a guerra civil ficou totalmente destroçado. Até que conseguiu um desenvolvimento muito grande e rápido mesmo com a situação de isolamento em que se encontrava, mas o socialismo é um regime que só pode triunfar em escala mundial.

Essa política de que o comunismo teria sumido do mapa é uma grande ilusão da burguesia porque esta e a classe operária supõem uma dualidade, andam de mãos dadas.

O comunismo seria o quê? Seria a expropriação do capital, do grande capital, da propriedade das grandes empresas, para que quem trabalhe passe a gerir essas grandes empresas em função das necessidades da sociedade como um todo e não em função dos lucros das 150 famílias que dominam o mundo. Simplesmente isso. A partir da crise de 2008 isso começou a ficar mais claro e no próximo período vai ficar mais claro ainda quando um novo colapso deverá colocar isso de uma maneira ainda mais transparente.

3. A globalização da economia, que avançou muito, deixou pouca margem para aceitar organizações operárias independentes porque as empresas atuam de maneira globalizada, super integrada, são empresas que têm milhões de trabalhadores e que um ascenso do movimento operário que atinja proporções em escala mundial coloca o mundo inteiro à beira de uma insurreição. Uma greve numa empresa como a General Motors com 1,5 milhão de empregados já é quase como uma insurreição. Um ascenso dos trabalhadores de uma IBM que tem 500 mil empregados e que acaba se transferindo para outras grandes empresas coloca o mundo à beira de uma insurreição. Então, em cima dessa situação, o grande capital foi obrigado a apertar, e muito, o movimento sindical. A incorporá-lo de mala e cuia e a implodir a esquerda que foi, em grande medida, corrompida em escala mundial e a outra parte acabou virando pequenos grupos, verdadeiros guetos, como reflexo da própria paralisia ou semiparalisia do movimento operário mundial.

4. A classe operária europeia, dos EUA, da América Latina e do Japão se encontra semiparalisada há, pelo menos, 30 anos. Na Ásia e, inclusive, no próprio Japão temos uma situação de que a classe operária nunca entrou em movimento. Então, quando falamos da crise da esquerda, da crise do movimento operário, etc., precisamos entender isso e a principal pergunta que deveria ser feita aqui é: sempre vai continuar assim? Se a resposta for sim, o melhor é se dedicar a outra coisa porque esquerda sem movimento operário vai ser uma esquerda pequeno burguesa e não uma esquerda revolucionária que tenha como objetivo organizar o movimento de massas, organizar a classe operária.

Se a classe operária está semi paralisada, não tem como organizá-la, então não existe esquerda revolucionária. A pergunta que deveria ser feita é se sempre vai ser assim? Essa estabilidade que se vê no Japão, por exemplo, com um capitalismo funcional, mas com um endividamento público de quase 250% do PIB, não perdurará para sempre. A grande tentativa do governo de aumentar os impostos levou a uma resistência enorme nos últimos doze anos. Após aumentar os impostos para 10% querem agora aumentar para 15%. Um grande colapso capitalista mundial, o endividamento brutal da China, não vão implodir em algum momento? Essa disputa pelo controle dos mercados não vai gerar uma grande guerra?

Se colocarmos as coisas em perspectiva vemos que a situação no próximo período tende a ir para grandes convulsões. As convenções dos países árabes, em 2008, significaram que a crise capitalista mundial acabou adotando a forma de crise política no elo mais fraco da cadeia. A crise acabou aumentando muito para o centro do sistema capitalista mundial.

5. O movimento operário na América Latina e em escala mundial ainda se encontra semiparalisado, mas tende a retomar o ascenso da década de 1980 como já aconteceu no mundo inteiro.

As movimentações na China para manter a economia funcionando vão exacerbar em algum momento essas contradições. Temos de pensar o seguinte: uma grande desestabilização da população em países como China, Alemanha, Japão, EUA, França, etc., até o Brasil, tende a gerar grandes mudanças da situação mundial. Uma tese fundamental é que a classe operária tende a entrar em movimento e, ao mesmo tempo, a paz social tende a implodir. Assim, por uma parte, o movimento revolucionário tende a acelerar e, por outra parte, o grande capital tende a levantar o fascismo.

6. O sindicalismo burocrático atual tende a desaparecer. A burocracia sindical atual tende a ser facilmente ultrapassada devido a um grande ascenso do movimento operário que, mesmo agora, pouco consegue conter. É uma burocracia que não tem mais base de massas e, obviamente, o grande capital vai tentar cooptar lideranças da classe operária para colocar no lugar outra burocracia com o mesmo objetivo, uma burocracia que tenha um pouco mais de prestígio no movimento operário. Sempre haverá uma luta entre a revolução e a contrarrevolução.

7. Hoje o partido operário revolucionário e mesmo o partido operário centrista de massas não existem porque o movimento operário se encontra semiparalisado.

8. Qual é a perspectiva para o movimento operário mundial? Tem de analisar a situação de conjunto e a perspectiva é justamente que o movimento operário tende a entrar em movimento provocado pela crise econômica mundial.

9. A revolução não é cultural conforme a maior parte da esquerda acha que seria a revolução da educação, da ideologia, etc. A educação das massas e da classe operária será na prática. Será no chão de fábrica, será no dia a dia, se dará nas empresas, nas lutas. Porque a educação normal é uma educação embrutecedora. Não existe a mínima possibilidade de, por meio da ideologia, mudar o regime. O que pode mudar o regime é o que sempre mudou o regime, que é a luta histórica pela destruição do Estado burguês e que só pode ser obra da revolução proletária.

10. Esse é o ponto fundamental do item número 4: o movimento operário revolucionário. O partido que é o único que pode ser revolucionário, como Estado Maior da classe operária é uma formação histórica da luta da classe operária mundial. Quando falamos da crise da esquerda devemos falar da crise do regime político como um todo, onde o que temos é um movimento operário que está semiparalisado, mas a pergunta é por quanto tempo?

O que vai levantar de novo a classe operária mundial só pode ser a crise capitalista mundial. Temos de analisar os dois polos da sociedade, a burguesia e o proletariado, para ver onde isso leva. Portanto, o partido operário revolucionário surgirá no próximo período, e haverá uma luta para esse surgimento, em cima do movimento de massas, do movimento da classe operária.

Vimos que em grandes situações de crise mundial o partido se desenvolveu. Por exemplo, o partido bolchevique russo foi fruto da enorme crise que havia no império e que se abriu com a guerra contra o Japão. A Rússia foi derrotada duas vezes pelo Japão o que abriu uma crise interna fenomenal, na guerra de 1902 a 1904 e que leva à crise de 1905. Tinha se formado uma classe operária altamente concentrada e com todas essas crises e mais a que se abre durante a 1ª Guerra Mundial conduz esta classe a um grande ascenso que permite que, em fevereiro de 1917, triunfe uma revolução espontânea. Isso leva a uma junção dos principais partidos revolucionários e, sob a liderança dos bolcheviques, conduz à revolução de outubro.

A revolução na China, por exemplo, que foi a grande revolução com o surgimento do partido maoista, foi a mesmíssima coisa. Quando a China estava à beira de ser implodida, tivemos os partidos nacionalistas encabeçados por Sun Yat-sen a partir de 1912, mas que não deram conta do recado. O partido comunista se formou como uma espécie de partido do exército. Foi a conjunção da crise contra, inclusive, a invasão japonesa e depois contra a política nacionalista apoiada pelos norte-americanos de Chiang Kai-shek.

No Camboja, o partido que foi formado em 1974 tomou o poder em quatro anos. Ou seja, os partidos operários revolucionários surgem para dar respostas para a situação colocada na prática pela crise capitalista.

11. Como tese final devemos considerar as transições de maneira dialética na hora de avaliar os fenômenos e acontecimentos sociais. O problema da esquerda é que como esquerda pequeno burguesa acaba avaliando as situações de maneira idealista, água parada, não vendo para onde que a situação atual está indo. Não consegue avaliar os setores que se encontram em luta. O que nós veremos no próximo período, de maneira inevitável, é um grande colapso capitalista mundial que deverá colocar a classe operária em movimento. A classe operária em movimento deverá gerar novas lideranças. A partir daí será colocada a luta pela retomada dos sindicatos, o que sempre aconteceu nas organizações da classe operária por excelência, e a luta pelo poder político. Estará colocada a formação do partido operário revolucionário de massas. A burguesia também joga e tentará implodir o movimento de massas independente por meio das frentes populares em novas versões e por meio do fascismo. É isso que está colocado para o próximo período.

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