A greve dos metroviários de Belo Horizonte e a volta de D. Sebastião

A greve dos metroviários de Belo Horizonte e a volta de D. Sebastião

Desde que o governo decidiu entregar o Metrô para a iniciativa privada, a categoria metroviária de Belo Horizonte vem tentando, através do seu Sindicato, obter informações sobre como ficaria a situação dos trabalhadores da empresa que são concursados.

Até hoje, apesar da greve já durar 10 dias nenhum sinal do governo abrir negociações.

Foi através da intermediação do Judiciário que os representantes do governo se reuniram no dia 15 de março com a diretoria do Sindicato para dizer que não teria nada de positivo para os trabalhadores e que não teria qualquer negociação, pois os trâmites legais para a privatização da empresa estavam dados e que os trabalhadores teriam mais um ano de estabilidade dentro da nova empresa.

Depois de um ano os novos proprietários do Metrô estariam livres para fazer o que bem entenderem.

A luta da categoria tem sido muito dura porque atinge em cheio os demais trabalhadores que usam o Metrô para se locomoverem, havendo, portanto, uma enorme pressão dos meios de comunicação da burguesia e das organizações patronais para caracterizar a greve como abusiva.

Mas não tem outro jeito, a categoria vê seus direitos sendo reduzidos, seus salários corroídos e a população sendo prejudicada com um valor muito alto das passagens sem melhora alguma do Metrô, inclusive a sua tão necessária expansão.

A greve foi o último recurso para enfrentar a política “ultra neoliberal” do governo que até mesmo o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, reconhece publicamente que só trouxe prejuízos para o país.

Mas o ministro da economia, Paulo Guedes, que é favor da privatização até da luz do sol, insiste em privatizar o Metrô, um meio de transporte que foi montado para fazer cumprir a cláusula de direito à mobilidade urbana que consta na Constituição brasileira.

Existe uma enorme campanha contra o que é público no Brasil, segundo a qual tudo que é estatal é ruim e ineficiente; são meias verdades e grandes mentiras.

As empresas públicas no Brasil funcionam com enorme esforço de seus trabalhadores, os funcionários públicos, que são trabalhadores competentes, que estudaram para passar em um concurso e se prepararam para prestar serviços de qualidade.

No Metrô, apesar dos baixos investimentos, o serviço funciona bem. Os trabalhadores da manutenção fazem verdadeiros milagres para manter composições com mais de 20 anos funcionando a todo vapor e sem acidentes.

Por outro lado, a iniciativa privada, que na maioria das vezes financia as campanhas de políticos, vendo nestes serviços um bom lugar para obter lucros, vem financiando também a enorme campanha e repete incansavelmente que os serviços públicos são ineficientes, enquanto os governos tratam de sucatear o patrimônio estatal para reforçar esta mesma campanha.

Se você liga o rádio e a televisão no Brasil de manhã até tarde é a mesma cantiga privatista. De tanto falarem, parte da população repete o discurso sem refletir.

O preço da gasolina está cada dia mais alto, os aumentos são constantes, mas não é porque a Petrobras é estatal; pelo contrário, é porque a Petrobras já está quase toda privatizada.

Assim, o preço das passagens do Metrô que era de R$1,80 e foi para R$4,50, não aconteceu porque o Metrô é estatal, mas porque querem privatizá-lo e fazer dele um negócio lucrativo.

O Metrô não foi feito para dar lucro, mas na lógica capitalista selvagem, tudo tem que dar lucro e a população trabalhadora que se dane.

Os metroviários estão na luta contra essa lógica do lucro a qualquer preço. Por isso decidiram entrar em greve, como último recurso para defender o seu ganha-pão e o direito das pessoas irem e virem.

A luta dos metroviários de Belo Horizonte deve ser um exemplo para as outras categorias no Brasil que estão na mesma situação e na mira da privatização.

Nessa semana a categoria participou de um ato no centro da cidade de Belo Horizonte juntamente com os trabalhadores da educação do estado e do município que estão em greve para reivindicarem respeito e valorização do seu trabalho.

Os professores querem receber o piso salarial nacional que nem o Estado e nem o município de Belo Horizonte cumprem. E, tanto o prefeito quanto o governador, já se apresentam para as próximas eleições executivas, que ocorrerão no fim do ano, como a solução para os problemas do povo; pura enganação.

Infelizmente a maior parte da “esquerda” junto com toda a campanha burguesa mostra que as eleições serão a grande saída para a classe trabalhadora, praticando uma espécie de sebastianismo disfarçado de luta e desviando a atenção para o embuste eleitoral, sem no fundo discutir sob qual programa de governo seus candidatos passarão a governar.

Romperão de fato com a lógica neoliberal? Reestatizarão as empresas que foram doadas para os capitalistas? Enfrentarão de frente o sistema financeiro e deixarão de pagar a ultra corrupta dívida pública? Anularão a reforma trabalhista e previdenciária dos golpistas? Ou D. Sebastião voltará apenas como farsa?

Além disso, é necessário que os outros estados onde opera a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) paralisem também suas atividades em solidariedade aos trabalhadores de Belo Horizonte e cientes de serão os próximos da fila na privatização e demissão de todos os trabalhadores concursados.

Pedro Garin
De Belo Horizonte

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