O PT de 1989 e o PT de 2022

O PT de 1989 e o PT de 2022

A história não mente, sempre que for bem contada. O PT que parte em 1989 surge de um momento histórico inédito de luta, o que temos hoje em 2022 é o conglomerado do repasse de muito golpes a classe trabalhadora, do qual o mesmo PT formou e forma parte.

O PT (Partido dos Trabalhadores) de 2022 não passa de uma caricatura do PT de 1979 e ainda do PT de 1989. O mesmo poderia ser dito sobre o seu principal representante, Luís Inácio Lula da Silva.

O PT foi fundado em 1979, sob o patrocínio do general Golbery, o responsável pelo SNI (Serviço Nacional de Inteligência) que veia nessa política a possibilidade de conter o crescente desenvolvimento do movimento de massas no Brasil. Dele fizeram parte, inicialmente, a burocracia sindical de esquerda lulista e alguns parlamentares da ala esquerda do MDB (Movimento Democrático Brasileiro).

No Brasil, o movimento de massas que passou por forte ascensão no início da década de 1960, tinha sido contido por meio da Ditadura Militar.

Durante esse período, as massas foram mantidas pacificadas por meio do chamado “Milagre Econômico Brasileiro” (governo do General Médici), quando houve abundância de empregos, apesar dos baixos salários e dos direitos trabalhistas terem sido atacados pela ditadura militar.

Com a crise mundial do petróleo de 1974, que esteve na base da nova escalada da inflação e do desemprego e do colapso das ditaduras militares, a situação política evoluiu rapidamente.

Nesse mesmo ano, o partido da ditadura, o Arena (Aliança Renovadora Nacional), sofreu expressivas derrotas eleitorais para o partido consentido pela ditadura, o MDB. Em 1977, apesar das leis repressivas, o movimento estudantil voltou a entrar em cena e foi o pioneiro na luta direta contra a ditadura.

Um ano mais tarde, em 1978, o setor de ponta da classe operária, os metalúrgicos, entrou em movimento com a greve deflagrada pelos operários da ferramentaria da Scania, em São Bernardo do Campo. Em 1979, aconteceram grandes greves em todo o chamado ABC paulista que, em 1980, se estenderam para a cidade de São Paulo.

A formação da CUT forma a base de massas do PT

A crise e, nesse primeiro momento, o movimento de massas foram contidos por meio das políticas recessivas implementadas pelo então Ministro da Fazenda Delfim Neto, entre 1980 e 1983. Mas a contenção foi apenas temporária.

A política recessiva da ditadura foi jogada à lona com a vitória eleitoral do PMDB na região sudeste do país, em 1982, e as fortes mobilizações do movimento popular e de desempregados que culminaram com a ocupação do Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, durante o governo de Franco Montoro, em 1983.

Nesse mesmo ano, aconteceu uma nova ascensão do movimento grevista, bem como fortes mobilizações no campo.

No dia 21 de julho de 1983, a Comissão Pró-CUT convocou uma greve geral que contou com a adesão de mais de três milhões de trabalhadores. No final do mês de agosto do mesmo ano, foi fundada a CUT (Central Única dos Trabalhadores), após setores classistas da CUT Pela Base terem tomado o controle de mais de 1.500 sindicatos ligados aos pelegos da ditadura militar.

Naquele momento, a CUT apareceu como alternativa de massas ao PT que tinha sido rapidamente controlado pela burocracia sindical lulista e intelectuais pequeno-burgueses.

Em 1984, aconteceu a campanha das Diretas Já! que foi contida pela primeira formulação da «frente popular», que representava um bloco entre as organizações de trabalhadores e representantes da burguesia, formada pelo PT, PDT e PCdoB e dirigida pelo PMDB.

No ano de 1985, aconteceu o pico da luta operária e camponesa no Brasil. Foram mais de 15 mil greves, sendo a esmagadora maioria radicalizadas. No campo, a luta pela terra entrou em forte ascensão e nesse ano foi fundado o MST (Movimento Sem Terra), com centenas de milhares de trabalhadores rurais.

A contenção do ascenso do movimento de massas no Brasil

A burguesia tentou conter o movimento operário e camponês por meio dos chamados planos Cruzado, que estiveram na base da contenção da inflação.

Esa foi a base do fortalecimento da burocracia sindical liderada por Lula, agrupada na Articulação, a corrente majoritária e que desde então dirige o PT, facilitada pela burocratização da própria CUT Pela Base.

Os enfrentamentos entre a Articulação e a CUT Pela Base se encerraram com a formação da Frente Popular.

A DS (Democracia Socialista), majoritária, e os outros setores centristas e “revisionistas” logo capitularam para a Articulação e foram à direita rapidamente.

Desde então compuseram todos os governos de Frente Popular.

A partir de 1988, a burocracia sindical, com o apoio da esquerda pequeno-burguesa, na época agrupada, principalmente no PCdoB e no PCB, conseguiu paralisar a CUT e sufocar as greves operárias.

A Convergência Socialista (principal grupo que formou o PSTU), fundamentalmente, a partir da adoção das «Teses de 90» passou, com “mala e cuia”, a apoiar a burocracia do PT.

A Frente Popular de 1989

Em 1989, a candidatura presidencial de Lula passou a agregar alguns setores minoritários da burguesia, principalmente o setor mais reacionário da burguesia nacional, o latifúndio.

O escolhido para compor a chapa junto a Lula foi o latifundiário José Paulo Bisol que era conhecido na época por estar alinhado com Mário Covas, um dos fundadores do PSDB. A pedido de Lula, Bisol não se filiou nesse partido e sim ao PSB (Partido Socialista Brasileiro), visando a candidatura a vice-presidente.

Lula e a cúpula petista, juntamente com os aliados burgueses, buscaram canalizar todas as expectativas das organizações operárias para o terreno eleitoral, o que continua sendo uma constante até hoje.

A política lulista, assumida nas eleições de 1989, era a de que as greves atrapalhavam a candidatura de Lula, o que serviu de base para terminar de estrangular o movimento grevista de conjunto.

A derrota de Lula nas eleições de 1989 aconteceu por meio da fraude, encabeçada pela direita pró-imperialista que contou com a ajuda da esquerda burguesa.

Ao mesmo tempo, era evidente que o próprio programa da Frente Popular era “demasiadamente radical” para Lula assumir o governo, principalmente considerando certas bandeiras de Lula como o Não pagamento da dívida externa, o rompimento com o FMI (Fundo Monetário Internacional), a reforma agrária, fortes melhoras para a educação e saúde públicas etc.

Após a vitória, o então presidente Fernando Collor de Mello começou a impor as primeiras políticas “neoliberais” no Brasil, que viriam a ser consolidadas, um tanto quanto de forma tardia, em relação aos demais países latino-americanos, pelos governos de FHC, a partir de 1985.

A aplicação dessas políticas contou com uma frente única da burguesia, apoiada de maneira semivelada pela frente popular e pela esquerda pequeno burguesa encabeçada pelas direções do PT, da CUT, do MST (Movimento Sem Terra) e a UNE (União Nacional dos Estudantes).

O PT nas eleições de 2002

A vitória do PT nas eleições de 2002, mas foram um repasse de bastão do PSDB que uma vitória propriamente dita.

O governo de FCH se encontrava com a língua de fora por causa do desgaste sofrido após ter entregue meio Brasil ao imperialismo a troco de nada.

A viagem da cúpula do PT e do PSDB em 2002 aos Estados Unidos para pedir a benção do genocida George Bush Jr. à vitória de Lula é mais do que significativa.

Os governos Lula tiveram como “mérito” perante a burguesia ter contido o movimento de massas que começa a levantar-se novamente no final dos governos de FHC.

Com esse objetivo, os governos Lula compraram 150 mil sindicalistas com cargos de chefia e jorraram recursos dos ministérios às burocracias que controlavam os principais movimentos sociais.

A burguesia tentou que a direita retomasse o governo nas eleições de 2006. Com esse objetivo, promoveu o chamado “Escândalo do Mensalão”. Apesar disso, não conseguiu apear o PT do governo, dada a força de Lula como liderança popular, mas sim o obrigou a incorporar o PMDB.

O PT nos governos Dilma

Os governos Dilma foram viabilizados pela desestruturação do conjunto do regime político sob o impacto do colapso capitalista de 2008.

Lula impôs como sucessora a Dilma, da mesma que poderia haver imposto um boi no pasto.

Dilma passou a aplicar um governo “tecnocrata” cada vez mais controlado pela ala direita do PT.

A burguesia tentou acabar com os governos do PT nas eleições de 2014, embora tomou cuidados para não desestabilizar o regime de conjunto.

A direita infiltrou as manifestações do Passe Livre de 2013 e as direcionou ao Fora Dilma!.

Mesmo assim, a direita estava tão queimada desde os governos de FHC e a crise de 2008 que chegou ao Brasil uns dois anos depois com força, que não teve chances perante a “gerentona” Dilma.

Mas o aprofundamento da crise capitalista mundial e o importante papel do Brasil na América Latina, eram incompatíveis com a permanência de Dilma no governo. Os ataques deviam ser acelerados.

Essa foi a base do “golpe parlamentar” de 2016 contra o governo Dilma, do qual hoje podemos dizer que a própria Dilma e a cúpula do PT, provavelmente o próprio Lula também, participaram. De fato foi um golpe contra o povo brasileiro.

A “frente popular”, seguindo a melhor tradição do oportunismo na história mundial, propagandearam, após o impeachment da presidenta Dilma, que haviam dois campos no Brasil.

“O campo dos golpistas e o campo dos que são contra o golpe”.

Após as eleições municipais de 2016, a cúpula do PT, o PCdoB, o PSOL e outros agrupamentos oportunistas até pararam de falar em golpe e negaram que houve um golpe em 2016.

A luta contra o golpe não é a luta da “democracia” contra a “ditadura” em abstrato, como afirmou a direção do PT e continuam afirmando penduricalhos da “frente popular”, às vezes de forma passiva, às vezes de forma ativa.

A luta contra o golpe de estado faz parte da luta de classes, onde os interesses dos trabalhadores (inclusive as bandeiras democráticas) devem ser colocadas sobre essa perspectiva.

Para os grupos que se posicionam como ala esquerda da “frente popular”, as bandeiras dos trabalhadores deviam ser abandonadas até que o golpe fosse derrotado.

Os revolucionários rejeitamos essa política e entendemos que não há nenhuma contradição entre lutar contra o golpe e levantar as reivindicações dos trabalhadores, uma vez que ataques de grande proporções (reforma trabalhista e previdenciária, privatizações, liquidação dos serviços públicos etc.) estão no centro da política golpista, em contra dos interesses dos trabalhadores.

Do governo Temer ao governo Bolsonaro, com a ajuda do PT

A “governabilidade” foi o mote principal do PT tanto durante o governo Temer como no governo Bolsonaro.

Nenhuma manifestação importante aconteceu contra o governo Temer, apesar que passava de lavada a “reforma trabalhista” e a “reforma da Previdência”.

O governo Bolsonaro foi imposto com total impunidade e sem nenhuma manifestação nem protesto importante nas ruas, apesar de que se tratou da maior fraude em 100 anos.

DA UMA OLHADA AQUI:
Os 26 pontos da fraude que lavaram a vitoria do bolsonarismo em 2018

Durante o governo Bolsonaro, o comportamento do PT, assim como dos demais partidos integrados ao regime, desde a direita até a “esquerda”, pode-se dizer que foi exemplar. Zero luta enquanto um tsunami de ataques contra os trabalhadores e o povo brasileiro eram impostos com brutal intensidade.

O motivo para um comportamento tão covarde?

Além das pressões do imperialismo que ameaçava com a cadeia a quem ousasse enfrentar sua política de massacre do Brasil, estava o medo, que era muito maior, de perderem os privilégios para o movimento de massas, de onde poderia surgir a direção revolucionária, ou pelo menos de luta, exatamente como tinha acontecido após a Ditadura Militar, pelo menos durante um período.

Em paralelo aparecia com muita claridade o verdadeiro engodo da prisão de Lula em 2017. Do nada, parecendo um Mandela brasileiro, embora que da mão do membro do Opus Dei, Geraldo Alckmin, agora Lula está sendo imposto pelos mesmos “algozes” como novo presidente do Brasil.

Desta maneira o PT (Partido dos Trabalhadores) está fechando o seu ciclo de rompimento total com o movimento de massas e a sua incorporação absoluta ao regime político, às políticas do imperialismo norte-americano.

O aspecto negativo é a direitização do sistema político oficial, mas ele vai da mão do aspecto positivo, o fato de que o PT como contenção real, na base, do movimento de massas passa a cumprir um papel muito secundário.

O aprofundamento da crise capitalista mundial irá levar a um novo ascenso do movimento dos trabalhadores e das massas. Novas direções surgirão e o que sobrou da burocracia petista do movimento de massas está muito longe de ser páreo; algo muito parecido com o que aconteceu com os pelegos ligados à Ditadura Militar.

Conforme disse Karl Marx, a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa.

Em breve será a vez das lutas e das revoluções!

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2 comentarios en «O PT de 1989 e o PT de 2022»

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