Por Ricardo Guerra
A apequenada classe dominante brasileira se contenta apenas em exercer – à soldo por corretagem – o desavergonhado papel de gerenciar os nossos recursos (naturais, financeiros, públicos e estatais) colocando-os ao dispor do império o quanto, como e quando estes desejarem.
Agora que o imperialismo está sob o comando de um novo “César” à frente de seus negócios:
- Apresentando-se revestido de uma “aparência menos reacionária” e (por incautos) até dita “progressista” – o que na prática, simplesmente significa dizer identitária;
- Roupagem não menos ardilosa em termos geopolíticos e tão agressiva e muito mais belicosa que a versão do seu antecessor, tida como reacionária, jocosa e fascista.
Os agentes a serviço do império estão abertos à possibilidade de substituir Bolsonaro da representação de seus interesses no Brasil e trabalham perspectivas mais “palatáveis” aos olhos do eleitorado:
- Para assumir o exercício do cargo executivo mais importante do país;
- Mas, da mesma forma que o seu antecessor, continuar agindo como publicano (fiel cobrador de impostos para o império) em pleno século XXI.
Bolsonaro “bem que se esforçou” mas não conseguiu seguir – na intensidade e velocidade desejada – a política prescrita pela burguesia local de entregar completamente o Brasil para os grandes monopólios financeiros transnacionais:
- Sendo esse, o principal motivo porque está sendo aventada a possibilidade de defenestrá-lo do poder;
- De forma alguma, pela sua desastrosa inépcia no trato com as pessoas e nas relações políticas e sociais, muito menos pelo desprezo que tem pela vida das pessoas cujos interesses deveria representar: a população brasileira.
As principais medidas entreguistas favoráveis ao imperialismo – ocorridas após o golpe de 2016 – foram tomadas no governo Temer, no qual participava ativamente o PSDB de Alckmin:
- Foi quando, por exemplo, a reforma trabalhista se efetivou;
- O controle dos preços dos combustíveis passou para as mãos do mercado internacional, saindo das mãos do governo brasileiro;
- E a emenda 95 (Lei do teto dos gastos), conhecida como a PEC da Morte (quando em tramitação no congresso) que interrompeu os investimentos em políticas sociais – então adotados;
- Fragilizando toda a rede de proteção social estruturada naquele momento, aumentando a concentração de renda e a exclusão social e promovendo e acelerando um programa de privatizações degenerado;
- Simplesmente para garantir o pagamento dos exorbitantes juros da irreal e criminosa dívida pública nacional (ver também aqui);
- Fazendo com que o trabalhador brasileiro passe a trabalhar cada vez mais – sem que tenha o mínimo de retorno em serviços e políticas sociais.
Além disso, o que foi feito no governo Bolsonaro em prol do imperialismo ocorreu graças à iniciativa do PSDB e dos aliados de Alckmin, como a reforma da previdência e os encaminhamentos para a privatização da Eletrobras e dos Correios (processo ainda em andamento).
A verdade é que apesar dos congressistas da direita tradicional votarem com o governo em cerca de 90% dos projetos contrários aos interesses populares, Bolsonaro não entregou tudo que o imperialismo desejava, muito menos na velocidade esperada.
Dessa forma, no intuito de engendrar a condução do processo eleitoral de 2022 – da forma que lhe for o mais favorável possível – como era de se esperar:
- O imperialismo segue manipulando e dirigindo a configuração dos atores que participam (direta e indiretamente) de todo o processo eleitoral, como verdadeiras marionetes;
- Com o objetivo de impor um governo com uma roupagem “menos tosca e grotesca”;
- Mas que valide e amplie todas as armações entreguistas anteriormente feitas, dando continuidade a total destruição da soberania nacional e a aniquilação dos direitos sociais duramente conquistados pelo povo brasileiro.
Nesse contexto, a composição de chapa feita entre PT e PSB – estabelecendo uma aliança entre opositores históricos (Lula e Alckmin) – nos parece então representar, muito mais:
- A concretização do mais perfeito cenário político para o imperialismo, no sentido da garantia da eleição de um candidato da denominada terceira via, em qualquer situação;
- Do que simplesmente um esforço realizado por Lula, para conquistar o eleitor de centro-direita e assim aumentar a possibilidade de levar uma representação do trabalhismo – com uma ampla base de apoio e sustentação – para a volta ao poder (mesmo que isso tenha sido feito com a melhor das suas intenções).
Como poderia Alckmin ter dado uma guinada à esquerda, ao ponto de sua participação num possível governo Lula indicar a possibilidade de sustentação para a realização de uma plataforma realmente representativa do trabalhismo e desenvolvimentismo social democrata? Se:
- Como governante, Alckmin sempre priorizou a violência em detrimento ao diálogo;
- Foi o responsável principal pelo Massacre do Pinheirinho, em 2012;
- E também foi quem mandou a PM espancar manifestantes contra seu governo (em São Paulo) e transformou os atos de 2013 num movimento golpista implementado pela direita.
Os atos de 2013, assim sequestrados, deram início aos movimentos pelo impeachment de Dilma Rousseff e desencadearam a escalada de radicalização da direita no país que conduziu Bolsonaro à Presidência da República.
Enfim, ao que parece, Alckmin pode representar no processo eleitoral de 2022, muito mais do que representou Temer no passado recente do nosso contexto político nacional:
- Uma aliança para ajudar a conduzir a esquerda (social democrata) de volta ao poder?
- A sedimentação de um processo de transfiguração da esquerda (outrora combativa e anti-imperialista), agora pautada por uma ideologia caracterizada como liberalismo “social”?
- Uma carta na manga dos agentes a serviço do imperialismo, para validar e ampliar as armações entreguistas de sempre e acelerar a total destruição da soberania nacional?
O histórico de seus posicionamentos relacionados a questões como privatizações, educação e saúde, e a sua relação com o conservadorismo religioso, nos sugerem que ele está sendo colocado como garantia ao império de que a sua política de aplicação do ultraliberalismo (na principal colônia que tem ao sul do continente americano) em nada mudará: ao contrário, a depender de determinados contextos e conjunturas, até poderá ser intensificada.
Dessa forma, o sonho de construção de um Estado Nacional Brasileiro Soberano, que priorize a justa distribuição da riqueza aqui produzida, parece (outra vez) vai ficando mais longe de ter perspectivas de ser concretizado.
E a questão final a ser levantada, é: se há motivo concreto para o povo brasileiro votar na chapa Lula-Alckmin, que ao menos sejam claramente delimitadas as promessas de campanha:
- Apresentando-se propostas minimamente plausíveis;
- E os pontos favoráveis ao campo de luta popular e anti-imperialista, para que possamos acreditar nessa possibilidade.
Isso precisa ser devidamente esclarecido e (por todos nós) evidentemente, de forma bastante incisiva ser cobrado!
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