As observações de Celso Amorim ao Financial Times não são tão favoráveis à Rússia quanto as pessoas pensam

As observações de Celso Amorim ao Financial Times não são tão favoráveis à Rússia quanto as pessoas pensam

Querem saber se Lula é ou não nacionalista? Só dá uma olhadinha na sua política exterior

Por Andrew Korybko

Apresentação Primera Línea Revolucionaria

O claro alinhamento do governo Lula/Alckmin às imposições dos Estados Unidos a cada dia ficam mais evidentes. Até o conselheiro de política exterior, Celso Amorim, na sua recente entrevista ao Financial Times, reforçou essa política, disfarçada de “neutralidade”.

O propagandeado não envio de armas à Ucrânia pelo Brasil, é o mínimo que um país fundador dos BRICS poderia fazer já que se o fizesse, automaticamente se colocaria fora do Bloco.

A “manutenção da integridade territorial da Ucrânia” levantada pela diplomacia de Lula/ Alckmin implica na retirada das tropas russas das regiões ocupadas e até da Crimeia. Isso para os russos é literalmente inaceitável porque implicaria no massacre dos russôfonos em regiões que historicamente sempre fizeram parte da Rússia; desconsidera o como a Crimeia se converteu em parte da Ucrânia em 1954 e, principalmente, a brutal escalada da pressão do imperialismo contra as fronteiras russas ocidentais.

O que poderia confundir é que Celso Amorim foi o principal orquestrador de uma política exterior que contava com elementos independentes nos governos Lula, tais como as relações com os países africanos e latino-americanos que iam no sentido de facilitar a expansão dos chamados “campeões nacionais”, as grandes empresas brasileiras que se beneficiavam do apoio estatal.

A Operação Lava-Jato colocou um ponto final a essa política, principalmente por meio da maior fraude eleitoral em 100 anos.

Com a palavra Andrew Korybo

Se o principal assessor de política externa de Lula fosse realmente simpático à Rússia, ele não sugeriria que sua derrota militar total é inevitável, ele se oporia inequivocamente a qualquer garantia de segurança semelhante à OTAN (Organização do Atlântico Norte) para a Ucrânia e não sugeriria que o próximo Hitler pode vir da Rússia também.

A Alt-Media Community (AMC) e a Mainstream Media (MSM) têm interesse narrativo em retratar erroneamente o Brasil de Lula como amigo da Rússia, apesar de ter votado a favor de uma resolução anti-russa da AGNU em fevereiro exigindo a retirada de Moscou de todas as terras que Kiev reivindica como sua. 

O primeiro é levado a desviar-se do alinhamento político deste autoproclamado líder “socialista” com os democratas liberal-globalistas dominantes dos Estados Unidos, enquanto o segundo quer pressioná-lo ao máximo para se alinhar ainda mais.

As análises a seguir devem ser revisadas pelos leitores que foram enganados por qualquer um dos campos da mídia:

* “Lula apunhalou Putin pelas costas ao ordenar que o Brasil votasse contra a Rússia na ONU

* “A desdolarização do comércio sino-brasileiro lança mais luz sobre a grande estratégia de Lula

* “Não se deixe enganar pelas últimas observações de Lula sobre a guerra por procuração OTAN-Rússia

* “A Rede de Influência Planejada de Lula com os Democratas dos Estados Unidos Servirá aos Interesses Liberais-Globalistas

* “Não deixe que o sucesso da desdolarização de Lula o distraia de seu fracasso no ‘Clube da Paz’

* “Abstenção do Brasil na votação da Assembleia Geral da ONU em 2014 sobre a Ucrânia prova que Lula mudou a política do PT

* “Desmistificando a última mentira de Lula de que o presidente Putin supostamente não está interessado na paz

* “O principal assessor de política externa de Lula articulou a visão de mundo de seu chefe em uma longa entrevista

* “Lula apenas desacreditou a política externa do Brasil ao impor condições à sua visita à Rússia

* “É preocupante que um dos maiores belicistas de Kiev tenha ficado satisfeito com a visita de Celso Amorim

* “Lula mentiu ao tuitar que China e Índia ‘condenam a ocupação territorial da Ucrânia’

* “Por que Lula está se apresentando como porta-voz da China e da Índia na guerra por procuração OTAN-Rússia?

A sequência de eventos acima mencionada e o insight associado definem o contexto para a presente peça.

O principal assessor de política externa de Lula, Celso Amorim, que atuou como ministro das Relações Exteriores do Brasil em duas ocasiões e uma vez como ministro da Defesa, compartilhou algumas observações ao Financial Times sobre a guerra por procuração OTAN-Rússia que foram posteriormente divulgadas pelo AMC e MSM para avançar sua falsa narrativa. 

A realidade é que suas palavras não são tão amigáveis aos russos quanto qualquer um desses dois campos de mídia estão fazendo parecer pelas razões que serão explicadas agora.

Amorim disse ao jornal que “não queremos uma terceira guerra mundial. E mesmo que não tenhamos isso, não queremos uma nova guerra fria.” 

A primeira parte desta passagem é superficial, enquanto a segunda mostra que ele realmente ignora os esforços do Ocidente para conter a Entente Sino-Russo ou está se fazendo de bobo, pois não ousa criticar os aliados ideológicos de seu chefe com muita severidade. 

Seja qual for o caso, a recusa de Amorim em reconhecer publicamente a Nova Guerra Fria em andamento reflete mal em seu julgamento profissional.

Essas palavras anteriores foram ignoradas principalmente pelo AMC e MSM, no entanto, que em vez disso distorceram sua próxima declaração sobre como “Todas as preocupações dos países da região devem ser levadas em consideração, se você quiser a paz. 

A única outra alternativa é a vitória militar total contra a Rússia. Você sabe o que vem depois? Eu não.» O Financial Times acrescentou que «Amorim disse que a segurança nacional é uma das principais ‘preocupações’ de Moscou, referindo-se às suas queixas de ‘cerco’ pelas potências ocidentais e pela OTAN».

Embora seja verdade que isso pode parecer superficialmente amigável para muitos russos, aqueles que caem nessa falsa impressão não refletiram totalmente sobre o que Amorim realmente estava transmitindo. 

Ao reler o que ele disse, a parte sobre ele perguntando “Você sabe o que vem depois (vitória militar total contra a Rússia)?” toma esse resultado como certo. 

Isso é prematuro e implica que sua derrota é inevitável, o que indiretamente aumenta a credibilidade das afirmações ocidentais de que a Rússia está supostamente à beira do colapso.

Quanto à referência de Amorim às preocupações de segurança nacional de Moscou sobre o cerco militar ocidental, isso sugere que o Brasil não acredita que a adesão da Ucrânia à OTAN seja uma boa ideia. 

Mais uma vez, embora essa postura possa parecer superficialmente amigável aos russos para muitos, na verdade não é, já que o cenário ao qual ele está se referindo não é realista tão cedo. 

Isso não é especulação como os propagandistas de Lula podem alegar instintivamente, mas comprovado por declarações oficiais da França, do Reino Unido e até da própria Ucrânia.

O presidente francês, Emmanuel Macron, pediu garantias de segurança “tangíveis e confiáveis” para a Ucrânia durante a cúpula do próximo mês em Vilnius, em vez da adesão à OTAN. 

O secretário de Defesa do Reino Unido, Ben Wallace, por sua vez, disse ao Washington Post em uma entrevista recente que “Temos que ser realistas e dizer: [a entrada da Ucrânia na OTAN] não acontecerá em Vilnius’; Não vai acontecer tão cedo.” 

O presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, reconheceu então que é “impossível” ingressar na OTAN agora.

No entanto, a falta de adesão formal dessa ex-república soviética a esse bloco não é suficiente para garantir as preocupações de segurança nacional de Moscou, ao contrário do que Amorim sugeriu. 

Pactos bilaterais de defesa mútua ainda podem ser firmados entre a Ucrânia e os membros da OTAN para servir essencialmente ao mesmo propósito semelhante em espírito ao alcançado entre os EUA e a Coréia do Sul após o armistício. 

Além disso, o possível envio de tropas da OTAN para a Ucrânia poderia de fato colocá-la sob seu guarda-chuva nuclear.

Para dar crédito a quem é devido, Amorim é certeiro ao avaliar que “Não podemos julgar a situação pelos últimos 1,5 anos. Esta é uma situação de décadas. [A Rússia tem] preocupações que devem ser levadas em consideração. Isso não é culpa da Ucrânia. 

A Ucrânia é uma vítima, uma vítima dos resquícios da Guerra Fria”. 

Apesar disso, ainda é válido que sua oposição implícita à adesão da Ucrânia à OTAN não faz diferença nesses cálculos estratégico-militares, expondo-a como nada além de retórica enganosa.

A última parte de sua entrevista com o Financial Times a ser criticada construtivamente é onde ele disse que “lembro-me da situação na Alemanha após a primeira guerra mundial: o objetivo era enfraquecer a Alemanha no [Tratado de] Versalhes e sabemos onde isso levou. 

Como foi observado anteriormente, Amorim considera como certa a “vitória militar total” da OTAN sobre a Rússia, impressão que é reafirmada por esta segunda declaração relacionada.

Ao fazer referência ao fim da Primeira Guerra Mundial e tudo o que veio depois, o principal assessor de política externa de Lula está sugerindo que a Rússia capitulará ao longo da próxima contra-ofensiva de Kiev apoiada pela OTAN, após a qual o “plano de paz” de 10 pontos de Zelensky será imposto sobre Moscou. 

O líder brasileiro discutiu esse resultado potencial com seu homólogo ucraniano durante sua ligação no início de março, conforme relatado pelo site oficial deste último, que envolve reparações e um tribunal de crimes de guerra.

A alusão de Amorim à ascensão do nazismo após Versalhes e a próxima guerra mundial levou a reflexões de que ele teme que algo semelhante se desenrole após a “vitória militar total” da OTAN sobre a Rússia, que ele considera natural, conforme explicado. 

Extrapolando essa previsão, ele está sugerindo que as sementes do fascismo já foram plantadas em toda a Rússia e só precisam ser regadas por um acordo pós-conflito ultrapunitivo para se transformar em outro derramamento de sangue global, que é profundamente ofensivo para o povo russo.

Longe de ser amigável com a Rússia, como o AMC e o MSM, ambos interpretam mal seus últimos comentários como se seguindo perseguindo suas pautas narrativas opostas, as palavras de Amorim estão realmente carregadas de críticas e país, se alguém ler nas entrelinhas. 

Se ele realmente simpatizasse com a Rússia, então não sugeriria que sua derrota militar é total inevitável, ele se oporia inequivocamente a qualquer garantia de segurança semelhante à OTAN para a Ucrânia e não sugeriria que o próximo Hitler poderia vir da Rússia.

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